04 novembro, 2016

A protestianização da cultura - Parte I

A protestianização da cultura¹
P. Javier Olivera Ravasi

(TRADUÇÃO FREI ZAQUEU)
freizaqueu@gmail.com


O artigo abaixo é a primeira parte da tradução realizada pelo frei Zaqueu e cedido a Associação Dom Vital sobre a protestianização da cultura. O texto original é do padre Javier Olivera Ravasi.




“Lutero é o protótipo
das idades modernas” (Fichte)


O Pe. Cantalamessa, pregador quaresmal e pontifício, neste ano de 2016 nos deixou umas palavras que trouxeram, entusiasmo por um lado e desconcerto por outro:
O mundo cristão nos prepara para celebrar o quinto centenário da Reforma em 2017. É vital para o futuro da Igreja não perder esta ocasião, permanecendo prisioneiros do passado, ou limitando-se a usar um tom mais conciliador no estabelecimento dos acertos e erros em ambos os lados. É o momento de dar, creio, um salto de qualidade, como quando uma barca chega à comporta de um rio ou de um canal que lhe permite prosseguir a navegação a um nível superior.
Consideramos -há que dizê-lo- bastante desafortunada a frase utilizada para referir-se à Reforma. “Celebrar” implica “festejar”, “recordar com alegria”, “elogiar”… e, assim como ninguém em sã juízo “celebra” a morte de um ser querido, a separação de um cônjuge, ou a enfermidade de um amigo, tampouco deveria fazer-se o mesmo com o episódio quiçá mais doloroso da História da Igreja, que não somente quebrou a unidade da Cristandade mas que, segundo alguns, arrastou as melhores de sus partes.

O cardeal Koch, presidente do Conselho Pontifício para Unidade dos Cristãos (alguém a quem não se pode chamar de “tradicionalista”) já havia expressado em 2012 que não era possível “celebrar um pecado” pois “os acontecimentos que dividem a Igreja não podem ser chamados um dia de festa”[2]. Ao que tudo indica, quatro anos depois, os ventos da mudança lograram reciclar o prelado suíço, quem terminou promovendo a celebração de um ato ecumênico na Suécia para “comemorar” não a “divisão, mas a renovação da Igreja” querida por Lutero[3].


Seja como for, consideramos apropriado o convite de analisar “acertos e erros de ambos os lados” como dizia o pregador Pontifício, a fim de compreender as consequências que, de parte do luteranismo, afetam a cultura hodierna. Para isso partimos da base de que a mal chamada “Reforma” protestante, vista já em perspectiva histórica, não foi outra coisa que uma ruptura doutrinal no seio mesmo da Igreja. E dizemos “ruptura doutrinal” porque, atualmente nenhum historiador sério, com os escritos de Lutero à vista, dirá que o motivo da separação se baseou nos abusos do clero ou na pregação das indulgências em ordem a construir a Basílica Vaticana; do contrário, o mesmo Lutero estaria ali para desmenti-lo: “Eu não impugno a imoralidade e os abusos, mas a sustância e a doutrina do Papado (…). Eu nunca deixei de atacar às duas colunas do Papado: os votos monásticos e o sacrifício da missa”[4]. 

Dita “reforma” (em que pese o termo equívoco), teve sua raiz na desbordante e avassaladora personalidade de Martinho Lutero. Não é nosso propósito penetrar as causas ou seu desenvolvimento; sequer as intenções do monge agostiniano[5], às quais se referiu o atual pontífice. Para isso existem hoje magníficas obras de resumo e eruditos trabalhos[6]; nos proporemos sim, tentar ver em que medida o fenômeno protestante tem influído na cultura contemporânea, para o qual, após analisar sucintamente alguns princípios do Protestantismo, veremos que consequências trouxeram aquelas lamas para estes lodos. 

Mas digamos em primeiro lugar o que entendemos pelo termo “cultura”. 


1. A cultura 

Remontando-nos à sabedoria greco-romana, os antigos faziam derivar a palavra cultura do verbo latino colo, colis, colere, colui, cultum, que, etimologicamente, possui três acepções[7]: cultivar a terra, habitá-la, e venerar os deuses. Ditos significados, longe de se opor, complementavam-se no mundo clássico buscando sempre o aperfeiçoamento da ordem natural: se cultivava uma planta e brotava a flor; se cultivava o homem e surgia um herói ou o sábio que não esquecia os seus deuses. 

Agora, desde o ponto de vista filosófico poderia se dizer que cultura é: “O conjunto de hábitos humanos que configuram uma sociedade enquanto expressivos da racionalidade”[8]. 

Vejamos: 

1) Conjunto: porque não se reduzem a uma só coisa, mas que são vários os hábitos que nele confluem. 

2) De hábitos: tomados em sua raiz subjetiva (modos de pensar, modos de conduzir-se, de expressar-se etc.) e em sua repercussão objetiva (linguagem, arte, música, construção, expressões religiosas, etc.). 

3) Que configuram uma sociedade: ou seja, a mostram, lhe dão um “rosto” a um período, a uma civilização, a uma etapa, a um lugar etc. 

4) Expressivos da racionalidade: é a raiz próxima que explica, por um lado, como a cultura é um proprium do homem, ao plasmar o espírito no tempo e no espaço; por outro, explica a possibilidade de transcender a cultura (inclusive de modificá-la) justamente pela capacidade reflexiva da razão, daí que o homem, ainda vivendo em determinado horizonte cultural, possa não estar necessariamente absorvido por ela, podendo transcendê-la se logra privilegiar em si a reflexão (não outra coisa sucedeu com Lot e sua família em Sodoma). 

Ou seja, a cultura é um efeito, perdurável ou não no tempo e no espaço, que pode ir variando segundo a perfeição ou não do homem mesmo. Daí que essa “cultura” possa possuir gradações em um mais ou em um menos segundo aquele proprium racional. 

Até aqui o âmbito estritamente filosófico. 

Há no entanto no homem, apesar de sua natureza racional, essa necessidade de “tributar a Deus o culto devido”, religando-se com ele e restaurando a justiça infringida, segundo a sentença de Santo Tomás[9]. É por isso que existe uma relação íntima entre religião, cultura e culto, na qual a primeira é fundante, as restantes fundadas. Segundo a religião que se possua (não os atos externos, senão o conteúdo próprio da religião), haverá uma cultura e, consequentemente, um culto. Neste sentido pode se dizer que o culto depende da cultura de modo que, aqueles hábitos próprios dos que falávamos mais acima, se são elevados pela graça e a virtude teologal da Fé (da verdadeira Fé), produzirão não só uma cultura exímia, mas um “culto verdadeiro”, como assinala de forma mui feliz John Senior ao dizer: “A cultura cristã é essencialmente a missa (…) e todo o aparato que a protege e favorece”[10]. 

E, com palavras análogas, o grande Josef Pieper: “Não há nada por fundar. Para o cristão há algo que não oferece lugar a dúvidas: que depois de Cristo não há senão uma forma verdadeira e válida de celebração do culto: a oferenda sacramental da Igreja cristã”[11]. Mas não nos adiantemos. Vejamos primeiro as teses fundamentais do Protestantismo que, a nosso juízo hoje influem na cultura contemporânea. E estas são três: o princípio de imanência, a fé pessoal e a predestinação fatalista. 


2. O princípio de imanência ou a primazia do “Eu” 


Sob o título de “Lutero ou o advento do Eu”[12] Maritain iniciava seu já famoso livro intitulado Três Reformadores. A primazia do eu ou, dito em termos do padre Cornélio Fabro “o princípio de imanência”, denota essa “mudança de direção do objeto ao sujeito, do mundo ao eu, do exterior ao interior”[13] pelo qual o homem se coloca em um lugar central, sendo árbitro e medida de todas as coisas. 

De onde um monge agostiniano, conhecedor da filosofia e da teologia, podia pensar deste modo? É que Lutero é filho de seu tempo: educado na universidade de Erfurt primeiro e na vida religiosa depois, se viu empapado da “via modernorum” (“o caminho dos modernos”), um movimento consolidado por Guilherme de Ockham (o “philosophus maximus”, segundo ele) o pai do nominalismo. Dita corrente, longe de ser um “sistema” fechado, era mais uma atmosfera ou ar de repúdio contra o movimento escolástico, que se encontrava por então perdido em fúteis interpretações e distinções, que faziam da filosofia e a teologia um emaranhado labirinto de trocadilhos e símbolos. 

Assim o assinala o dominicano Frei, um grande historiador da filosofia: 
O nominalismo não é um sistema, nem sequer uma escola, é mais um sentimento, um espírito difuso, um pouco indefinido, mas que repercute em amplas ramificações que se estendem às manifestações mais diversas, à política, à teologia, à filosofia e à mística (…). Seu signo é essencialmente negativo e demolidor. Carece de soluções positivas. É mais um conjunto de problemas, uma atitude crítica e cética ante os aportes da escolástica anterior[14]. 
Daí que, ao descer aos grandes temas, o nominalismo caia em um certo ceticismo propondo, por exemplo, que, 

a teologia não é ciência, e não há possibilidade nenhuma de conciliação entre os dois campos, o da razão e o da fé (…). Assim se compreendem as múltiplas derivações, aparentemente contraditórias, que resultam simplesmente de se acentuar mais ou menos algum de seus princípios[15]. 

Ockham, afirmando também a univocidade (e não a analogia) do ser, propunha que a realidade se compõe de indivíduos particulares que só possuem em comum o nome, a partir de –em última instância- uma mera convenção:

O universal não existe fora da alma, nem como substância nem como acidente. Mas tampouco existe dentro da alma como acidente de qualidade. Não tem mais que uma realidade objetiva, isto é, que se identifica com a mesma alma ou entendimento. É uma ficção (‘fictio’, ‘imago’, ‘exemplar’) cujo ser consiste somente em ser percebido (‘esse est percipi’)[16]. 

Os conceitos têm um esse subjetive[17] expressados por meio dos nomes (com o tempo, Heidegger dirá que as palavras são o veículo do ser) pelo que, dado que o homem é incapaz de alcançar a essência das coisas (e, por isso, a verdade) terminará fechando-se na intimidade de seu cogito-volo (penso-quero), que lhe impedirá transcender o âmbito da consciência pessoal. 

É isto o que levará a Ockham a adotar “uma atitude de desdenhosa independência frente aos seus contemporâneos. Não reconhece mais autoridades que a Sagrada Escritura, a Igreja e os doutores aprovados por ela [citando] raras vezes a Santo Tomás, e com o fim de rejeitar suas doutrinas”[18]. 

Pois bem, este princípio do permanecer na própria interioridade, de centrar a bússola no Eu, é um dos que Lutero receberá e projetará. Para o monge agostiniano, todo dado da inteligência será incerto (“a prostituta razão”, gostava de chamar à inteligência), tendo como única fonte de certeza a revelação bíblica lida segundo o espírito subjetivo de cada qual. Isto e não outra coisa será o motor do “livre examen” protestante. Nada de princípios exteriores, nada de dogmas, só uma experiência interior de “liberação espiritual” e uma percepção interior da realidade reduzida a sentimento pessoal: “O cristianismo não é mais que o exercício contínuo de sentir que não tens pecado ainda que peques”[19]. 

Sentimento a partir do Eu. É então, o primeiro princípio: a primazia do eu ou o princípio de imanência. 

3. A salvação pela fé pessoal 

A segunda tese do Protestantismo que influirá em nossa cultura, é aquela que proporá a salvação a partir de uma Fé separada de suas obras. 

Dentre os inumeráveis escritos do monge alemão, há um que, por sua brevidade e concisão nos dão uma ideia de sua doutrina a respeito do intitulado “Da liberdade cristã”: oferecendo ali uma síntese sobre sua doutrina acerca da justificação, assinala o reformador que o homem não se encontra sujeito a preceito algum, nem às obras externas, mas só à fé em Cristo, nosso Salvador. Em sua concepção, o Filho de Deus, por haver sido ofendido, se entregou de uma vez e para sempre em nosso lugar. Seu raciocínio é simples: o pecado do homem é uma ofensa infinita contra Deus que não pode ser apagada de modo algum (nem sequer pelo sacramento do batismo). 

Por que propõe isto? Porque o “comprova” a partir de nossa inclinação permanente ao pecado, como “se experimenta” na concupiscência. É o desejo desordenado o que, longe do que assinala a Igreja, nos demonstra esse estado permanente de pecado em que nos encontramos imersos, fazendo-nos, per se, enfadonhos a Deus e incapazes de justificar-nos por nossas ações. 

Que fazer então? Somente lançar-nos nos braços de Cristo, quem já pagou por nós, de uma vez e para sempre... Acaso não é isso o que ensinam as Escrituras? “O justo vive da Fé”– diz São Paulo (Rom 1, 17), ao que Lutero com o tempo agregará “” da Fé. É crendo ou, melhor, “confiando interiormente”, que o homem poderá salvar-se inclusive sendo mau

O monge agostiniano, tratando acerca do tema, não hesitará em escrever a seu discípulo Melanchton: “Deus não salva aos pecadores fingidos. Sê pecador e peca fortemente, mas ainda com mais força alegra-te de Cristo…”[20]. 

Deus sempre nos justificará apesar de nossas obras[21]. Nada de tentar salvar-se pelas obras, nada de sacramentos, nada da ação santificadora da Igreja, nem do sacerdócio, a confissão, etc. 


4. A negação de liberdade do homem e a predestinação 

Já vimos a imanência e a não necessidade -e mais ainda a impossibilidade- das obras para salvar-se; só basta a Fé; há entretanto uma última tese protestante que não pode deixar de nomear-se, e que se refere à perda da liberdade e à absoluta predestinação do homem rumo ao céu ou ao inferno: “É terrível o decreto, o confesso (dirá Calvino), mas ninguém poderá negar que Deus previu o destino final do homem antes que o criasse (…). Sua natureza é má e podre (…) não possuímos o arrependimento em nossas mãos”[22]. 

Nosso destino não está em nossas mãos; ninguém pode agregar ou retirar nada à natureza humana, absolutamente corrompida desde o princípio. O homem está predestinado tanto ao céu como ao inferno independentemente do que faça; se trata de um fatalismo teológico no qual não conta o livre arbítrio. Nada pode o homem pensar, querer ou fazer que não tenha sido previamente determinado por Deus desde toda a eternidade: 

Chamamos predestinação –assinala Lutero- ao eterno conselho de Deus, pelo que há decretado ou o que há de fazer de cada homem. Porque Deus não os cria a todos nas mesmas condições, mas ordena a uns para a vida eterna e a outros para a eterna condenação (…). E segundo mostra claramente a Escritura, afirmamos que o Senhor há determinado já em seu eterno imutável conselho a quem salvar e a quem quer deixar na ruína[23]. 

Com estas palavras, afirma-se uma heresia horrenda também sustentada por Lutero: “Deus é mau”. Em efeito, se “não possuímos o arrependimento em nossas mãos” e a salvação é possível só para alguns, então afirma-se que Deus cria algumas pessoas predestinando-as ao inferno. Mas, se Deus predestina almas ao inferno, então Deus é um tirano e, mais ainda, o pior deles, daí que, como a moral divina se funda nas arbitrariedades divinas, é necessário rejeitá-la como propunha o nominalismo: já não há mais princípios; só sujeitos que propõem uma moral situacional. 

Não importa o que o homem faça; não importa o que o homem pense; a vida, no dizer de Macbeth, será “um conto contado por um idiota, cheio de ruído e de fúria, que não tem nenhum sentido”. 
Até aqui, algumas das teses protestantes. Tentemos agora ver como puderam ter influenciado na cultura atual.

Continua...


[2] http://kirchensite.de/aktuelles/kirche-heute/kirche-heute-news/datum/2012/04/25/oekumene-kardinal-reformation-ist-kein-grund-zum-feiern/(cfr. http://infocatolica.com/blog/delapsis.php/1206210524-cardenal-koch-sobre-el-v-cent) (consultado em 28/7/2016).
[3] http://www.interris.it/2016/05/09/93193/cronache/religioni/protestanti-e-cattolici-commemorano-la-riforma-luterana.html (consultado em 21/8/2016).
[4] ALFREDO SÁENZ, La Nave y las tempestades. La Reforma Protestante, Gladius, Buenos Aires 2005, 90. De especial interesse é o prólogo do Pe. Horacio Bojorge.
[5] “Eu creio que as intenções de Martinho Lutero não eram equivocadas, era um reformador. Talvez alguns métodos não eram os justos” (Roda de imprensa na viajem de retorno da Armênia, 28 de Junho de 2016; https://www.aciprensa.com/noticias/que-dijo-el-papa-francisco-sobre-lutero-y-la-corrupcion-en-la-igreja-18302/; consultado em 1/7/2016).
[6] HEINRICH DENIFLE, Lutero y el luteranismo, (trad. espanhola de Férnández Álvarez), Tip. Pontif, Manila, 1920; THEOBALD BEER, Der fröhliche Wechsel und Streit. Grundzüge der Theologie. Martin Luthers, Johannes Verlag, Einsiedeln 1980.
[7] A. ÉRNOUT ET A.MEILLET, Dictionnaire étymologique da langue latine. Paris, Klincksieck, 1959.

[8] Agradecemos a valiosa ajuda e a proposta de definição do Pe. Christian Ferraro.
[9] Cfr. SANTO TOMÁS DE AQUINO, Suma teológica, II-IIae, q. 81, a. 2.
[10] JOHN SENIOR, A restauração da cultura cristã, c. 2.

[11] JOSEF PIEPER, El ocio y la vida intelectual, Rialp, Madrid 1979, 75
[12] JACQUES MARITAIN, Tres Reformadores, Excelsa, Buenos Aires 1945, 7-61. Nesta obra Maritain já começa a utilizar sua célebre e lamentável distinção entre “indivíduo” e “pessoa”, posteriormente refutada pelo Pe. Julio Meinvielle.
[13] C. FABRO, Introduzione all'ateismo moderno, 1004.
[14] GUILLERME FREI, Historia de la filosofia. II (2º) Filosofia judia e muçulmana. Alta escolástica: desenvolvimento e decadência, BAC, Madrid 1986, 538.
[15] Ibidem, 539.
[16] Ibidem, 576.
[17] Ibidem, 578.
[18] Ibidem, 568.
[19] ALFREDO SÁENZ, op. cit., 164-165.
[20] Martinho Lutero, Carta 501 a Melanchton.
[21] Lutero eliminará de sua tradução da Bíblia, entre outros livros canônicos, a carta de São Tiago (Tig 2, 17-18: “Assim também a Fé, se não tem obras, está realmente morta. E ao contrário, alguém poderá dizer: «Tu tens Fé?; pois eu tenho obras». Prova-me tua fé sem obras e eu te provarei pelas obras minha Fé”.
[22] ALFREDO SÁENZ, op. cit., 283.
[23] Ibidem, 285.



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