09 outubro, 2015

O padre e o pastor


     Uma das acusações injustas ainda largamente repetidas e que ainda causa dúvida nos mais desavisados, é que os evangélicos, melhor dizendo, os protestantes, leem a Bíblia, e que os católicos relativizam a importância das Sagradas Escrituras na prática religiosa.
       De fato, um dos dogmas mais insanos do protestantismo é o da Sola Scriptura que concede a todo e qualquer indivíduo a capacidade de ler os livros sacros e ter uma relação pessoal e direta com o criador. Não precisa assinalar que essa permissividade gerou uma confusão dos diabos, é sim, dele mesmo, tendo a torto e a direito tantas denominações quantos forem os entendimentos.¹
    Certamente a leitura constante das Sagradas Escrituras não garante absolutamente salvação de ninguém. Um dos seres que conhece todas as letras do Evangelho e do Antigo Testamento é o próprio espírito maligno e foi com a Bíblia na mão, e talvez de paletó, que ele tentou a Cristo no deserto. Ademais, ao responder o jovem virtuoso, Nosso Senhor disse que a salvação se daria seguindo os mandamentos.
      De tudo isso, há de convir que é muito perigoso ler os Livros Sagrados sem o balizamento da autoridade conferida pelo próprio Deus para tanto. Foi Nosso Senhor quem concedeu o múnus das chaves para Pedro e é com a perpetuação dos Papas que Cristo se prolonga na história através de sua Igreja. Não sem razão Santa Teresa Dávila chamava o Papa de O Doce Cristo na Terra.
     Mas já falei e não vim ao ponto principal. O início do texto falou da acusação sofrida pelos católicos que não dão tanta importância assim às Sagradas Escrituras. Vejamos então se essa denúncia grave procede a partir das vestes sacerdotais e aquelas que fazem uso os ditos pastores.

      O pastor protestante, em regra, principalmente no Brasil, usa paletó. Nada mais do que uma roupa secular e democrática que dela faz uso o promotor, o advogado e o juiz. Não esqueçamos também que os senhores de Brasília, políticos de todos os naipes, e de todas as tendências, são desenhados pelo famigerado paletó. Um pastor ao lado de um político não diferencia nada. Inclusive, pura coincidência, muitos pastores entram para a política. O protestantismo se mostra assim: manifestação religiosa tipicamente secular, pobre de símbolo, ausente de evocação a Deus. A roupa do pastor lembra a do deputado e só faz menção à Bíblia se o indivíduo estiver com ela debaixo do braço.
       Já as vestes do sacerdote católico... Estão repletas de menções a várias passagens bíblicas. Por assim dizer, o Padre se veste de Cristo e cada peça utilizada nos lembra de Nosso Senhor e de passagens narradas nos Evangelhos, senão vejamos:

        O AMITO com que cobre a cabeça quando começa a revestir-se, simboliza a coroa de espinhos e o lenço com que, cobrindo seu divino rosto, escarnecendo dele, os algozes diziam: adivinha quem te bateu!


Os soldados teceram de espinhos uma coroa e puseram-lha sobre a cabeça e cobriram-no com um manto de púrpura. São João 19,2
Entretanto, os homens que guardavam Jesus escarneciam dele e davam-lhe bofetadas. Cobriam-lhe o rosto e diziam: Adivinha quem te bateu! São Lucas 22, 63 e 64

A ALVA simboliza a túnica branca com que o trataram como louco na casa de Herodes desprezando-o.


Herodes, com a sua guarda, tratou-o com desprezo, escarneceu dele, mandou revesti-lo de uma túnica branca e reenviou-o a Pilatos.” São Lucas 23,11

O CÍNGULO ou CORDÃO simboliza as cordas com que foi atado ao Horto.

A ESTOLA representa a corda que levava ao pescoço, quando o conduziam preso.

O MANÍPULO é o símbolo da corda com que o sujeitaram à coluna, para açoitá-lo.
Libertou então Barrabás, mandou açoitar Jesus e lho entregou para ser crucificado. São Mateus, 27,26

A CASULA simboliza o vestido de púrpura que lhe puseram na casa de Pilatos, estando já coroado de espinhos.
Os soldados teceram de espinhos uma coroa e puseram-lha sobre a cabeça e cobriram-no com um manto de púrpura. São João 19,2
Apareceu então Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse: Eis o homem! São João 19,5


A CASULA também evoca a cruz que Cristo carrega e que o Padre, como instrumento, carrega in persona Christi.

E assim é que revestido de Cristo o sacerdote perpetua o sacrifício oferecido a Deus, o único e perfeito sacrifício para que os homens possam se salvar.



E você, vai seguir aquele que se confunde com os deputados ou aquele que se veste de Cristo, e emprestando a voz dele ao Salvador, faz o pão virar verdadeiro Corpo e o vinho verdadeiro Sangue?




Antonio Manuel