13 março, 2016

A ENCÍCLICA HUMANUM GENUS

Foi com vivo interesse que os membros  da Associação Dom Vital se debruçaram no domingo, dia 06/03/16, em torno da encíclica Humanum Genus para debater sobre a maçonaria e sua influência no mundo.

Apesar de a encíclica ser do final do século XIX é patente sua atualidade e pertinência para compreender o mundo contemporâneo, demonstrando de uma forma cabal, como os planos da maçonaria são engendrados a longo prazo e vagarosamente.

A carta encíclica do Papa Leão XIII começa fazendo referência a Santo Agostinho quando ele fala no seu livro Cidade de Deus das duas cidades. Há uma cidade dos maus (cidade terrestre), que é edificada no orgulho até o desprezo de Deus, mas também há a cidade celeste, procedente do amor de Deus até o desprezo de si mesmo.

Segundo se depreende do excerto de Santo Agostinho, os maus se organizam e confabulam para espalhar seus objetivos nefastos . Há um grupo que conspira para criar uma sociedade baseada no orgulho, no vício e na ilicitude. Essa sociedade tem uma finalidade e um propósito: o desprezo de Deus.

Essa seita clandestina e secreta conspira para atacar Deus e, consequentemente, aquela sociedade que foi fincada e que tem fundamento no próprio Cristo, que é a Igreja Católica. Não há como o amor da cidade terrestre se unir ao amor da cidade celestial, como afirmado pelo Papa Leão XIII na encíclica.

No ponto 6 do documento papal se diz que os mações, empregando a audácia e a astúcia, invadiram todas as categorias da hierarquia social, e começa a assumir, no seio dos Estados modernos, um poder que equivale quase à soberania.

O Papa admite e alerta da grande influência assumida pelos mações nos Estados nacionais. Esse poder terá consequências nefastas e irá fazer do Estado uma lança de ataque contra a Igreja, através de suas constituições liberais, a ideia do contrato social, do racionalismo na filosofia, na política e no direito, com o positivismo jurídico.

No final do item 6 o papa fala da maçonaria e de associações similares que são seus satélites. É importante notar que nem todo aquele que pugna contra a Igreja vem com o nome “maçonaria”. Há sim sociedades satélites que fazem o trabalho da maçonaria, mas não se autointitulam de maçons. Sabe-se que são maçons pelos objetivos professados e pelas doutrinas que advogam. Portanto, não é mister saber se a organização é necessariamente maçônica e se o indivíduo tem filiação com a maçonaria. Há várias sociedades que fazem o trabalho através de nomenclaturas diversas.

O papa termina no ponto 7 dizendo o que segue: Hoje, a exemplo dos Nossos predecessores, resolvemos fixar diretamente a nossa atenção sobre a sociedade maçônica, sobre o conjunto da sua doutrina, sobre os seus projetos, sentimento e atos tradicionais, a fim de por em evidência mais brilhante o seu poder para o mal, e deter nos seus progressos o contágio desse flagelo funesto.

Portanto, na encíclica, não espere encontrar notas sobre o “Rito Escocês Antigo e Aceito” ou detalhes sobre rituais,  esquadro, compasso e três pontinhos na assinatura. O papa está tão somente preocupado em informar sobre a doutrina, projetos, sentimento e atos tradicionais da seita, para denunciar sua finalidade primaz.

No ponto 8 da encíclica o Papa fala da diversidade de seitas, de ritos, mas que estão acordes pela analogia da finalidade e princípios essenciais. Depois o papa diz que todas essas seitas procedem e convergem para a Maçonaria, identificando essa, portanto, como o polo irradiador. Diz Leão XIII que, apesar de essas seitas atuarem à luz do dia, se se fizer uma análise profunda, pode-se ver que estarão associadas a sociedades clandestinas.

O papa ainda ensina que os filiados à Maçonaria devem prometer obedecer cegamente e sem discussão às injunções dos chefes superiores.

A encíclica ainda salienta que: Uma árvore boa não pode dar maus frutos, e uma árvore má não pode dar bons frutos(Mt 7, 18). Ora, os frutos produzidos pela seita maçônica são perniciosos e dos mais amargos. (...) trata-se de destruir completamente toda a disciplina religiosa e social que nasceu das instituições cristãs, e de substituí-la por uma nova, formada de acordo com as idéias deles, e cujos princípios fundamentais e leis são tirados do naturalismo.

Leão XIII preceitua que isso deve ser entendido como atribuído à seita maçônica no seu conjunto, enquanto abrange outras sociedades que são para ela irmãs e aliadas. Não é o caso, por seu turno, de ficar apontando essa ou aquela organização, procurando se tem ou não o registro de sociedade secreta... É ver os frutos que eles estão colhendo de seus trabalhos e assim chegar ao polo irradiador. Quem está coligado a um interesse de destruir a disciplina religiosa e social que nasceu das instituições cristãs, quem combate a Igreja com calúnias, mentiras e espalha e propugna por uma organização política e social tendente a apequenar os direitos da Igreja, está fazendo o trabalho da maçonaria, está atuando pela maçonaria, mesmo que desconheça a finalidade precípua dessa associação.

Um dos aspectos fundamentais a ser entendido no campo doutrinário é no tocante ao ensinamento do naturalismo professado pela seita. Aqui se fala na soberania da razão e da natureza, é o racionalismo propulsor das grandes revoluções e mudanças provocadas no mundo todo.

Se há o racionalismo, logo se nega o dogma da revelação divina, alás, nem há dogma religioso, nem mestre em cuja palavra se deva ter fé. Nas palavras do papa a maçonaria propõe-se reduzir a nada, no seio da sociedade civil, o magistério e a autoridade da Igreja, relativizando a importância dos dogmas da Igreja; donde esta conseqüência que os mações se aplicam a vulgarizar e pela qual não cessam de combater, a saber: que é preciso absolutamente separar a Igreja do Estado. 

Não é demais salientar que a luta para separar a Igreja do Estado foi uma empresa engendrada por mentes maçônicas, propagandeada pelos enciclopedistas e que ganhou vulto enorme com o movimento iluminista do século XVIII. Depois de separar, combater, através das armas, das mídias, da televisão, das calúnias dos livros, das escolas. A luta para separar a Igreja do Estado provocou enorme perseguição e fez inúmeros mártires, usurpando, com isso, direitos milenares que a Igreja gozava.

A Igreja, como a maçonaria sempre quis, passa a não poder responder aos proclamos da sociedade civil, o seu magistério não quer dizer nada. O que vale é a decisão do juiz ou dos tribunais. O que aconteceu no caso da ADPF 54 que tramitou no STF, o célebre julgamento do aborto de anencéfalo? O clamor da Igreja foi apenas uma opinião , tão igual a qualquer outro segmento. O que aconteceu no caso da excomunhão dos médicos envolvidos no aborto em Recife, no CISAM, na época de D. José? A Igreja foi ridicularizada, falou-se até que a idade média tinha voltado. A sociedade está prevenida contra a Igreja através dos meios utilizados pela maçonaria para diminuir o poder do seu magistério e influência.

Se há um líder odiado pela maçonaria é o papa. “Para por fora de dúvida a existência de um tal plano, à míngua de outras provas bastaria invocar o testemunho de homens que pertenceram à seita, e cuja maioria, quer no passado, quer em época mais recente, têm atestado como certa a vontade em que estão os mações de perseguirem o catolicismo com inimizade exclusiva e implacável, com a firme resolução de só pararem depois de haverem arruinado completamente todas as instituições religiosas estabelecidas pelos Papas “. A maçonaria quer o papado para poder destruir a Igreja por dentro, esse é o grande objetivo do ataque. Nunca é demais bradar que temos que sempre rezar pelo Papa.

A maçonaria está envolvida no estímulo à corrupção dos costumes em razão de seu próprio fundamento de crença. Diz Leão XIII: os naturalistas e os mações negam que o pai do gênero humano tenha pecado e, por conseguinte, que as forças do livre arbítrio estejam de algum modo "debilitadas ou inclinadas para o mal" (Conc. Trid. Sess. VI, De Justif., c. I). Muito pelo contrário, exageram o poder e a excelência da natureza e, colocando unicamente nela o princípio e a regra da justiça, não podem sequer conceber a necessidade de fazer constantes esforços e de desenvolver uma grandíssima coragem para comprimir as revoltas da natureza e impor silêncio aos seus apetites. 

Por isso, vemos multiplicar e pôr ao alcance de todos os homens tudo o que lhes pode lisonjear as paixões. Jornais e brochuras de onde a reserva e o pudor são banidos; representações teatrais cuja licença excede os limites; obras artísticas em que se ostentam, com um cinismo revoltante, os princípios disso a que hoje em dia se chama de realismo; invenções engenhosas destinadas a aumentar as delicadezas e os gozos da vida; numa palavra, tudo é posto em obra para satisfazer o amor do prazer, com o qual acaba se ponde de acordo a virtude adormecida. 

Vejam que o papa fala para o mundo de fins de século XIX. Uma televisão, por exemplo, que passa um filme ou programa licencioso, nas palavras do Papa, é da maçonaria. Está conectada a ela pelo propósito da corrupção dos costumes e, sendo assim, afastar as pessoas da Igreja, de uma vida devota. O que falar do carnaval brasileiro com tanta reserva e pudor que enchem as ruas e avenidas? Quem vive de forma dissoluta ou quem atura o vício não tolera a vida da graça, das virtudes religiosas. Revistas, sites, jornais, peças, empresas de filmes, fazem o trabalho da maçonaria quando não estão elas mesmas coligadas a essa seita. É explícito, por exemplo, que muitos dos astros da música pop, do rock e de outras porcarias que são vendidas como arte, fazem referências explícitas a símbolos maçônicos.

O papa completa dizendo que “têm-se achado na Maçonaria sectários para sustentarem que era preciso sistematicamente empregar todos os meios de saturar a multidão de licenças e vícios, bem certos de que com essas condições ela estaria toda nas mãos deles e poderia servir de instrumento ao cumprimento dos seus projetos mais audaciosos.

A influência que a maçonaria trouxe gerou consequências na vida doméstica e na vida política.

(continua...)

Fonte:http://w2.vatican.va/content/leoxiii/pt/encyclicals/documents/hf_lxiii_enc_18840420_humanum-genus.html