Conclusão
São evidentes as contribuições da metafísica às
ciências naturais como botânica e zoologia, bem como às ciências não naturais,
como filosofia e teologia. Sem a ordem cósmica, as semelhanças entre os
diferentes seres seriam mera coincidência. Não haveria sentido em classificar
os seres de acordo com suas categorias (que categorias?); em separar a
botânica da mineralogia, enfim, sem a ordem no universo, não poderíamos afirmar
que uma semente de girassol é um girassol em potencial, por exemplo.
O homem médio pode não perceber que ao destruir a
metafísica, destrói-se a ciência, a teologia e, inclusive, a razão. O
Pensamento fica aleijado. Como alguém, a bem da razão, duvida até da própria
razão? É óbvio que não é a serviço da razão que eles trabalham. Contra
filósofos como esse, São Paulo adverte:
“Cuidado com esses cães! Cuidado com esses
charlatães! Cuidado com esses mutilados (Filipenses 3:2)”.
Os modernistas parecem ter extrapolado todos os
limites. O livre-pensamento, após tudo questionar, questionou a si mesmo,
aniquilando-se como uma serpente devorando o próprio rabo. Pareceria uma mera
alegoria, não fosse pelo fato de alguns modernistas realmente representarem a
eternidade com a imagem duma serpente (ou dragão) devorando-se. Fato similar ocorre
no campo das artes. Questionam-se todos os limites e atributos da arte. Até que
todos os caracteres que faziam algum produto da mente humana ser chamado de
arte desapareçam, e o produto não possa mais ser chamado de arte. Logo,
percebemos que o motor dos modernistas, desde Kant até os mais recentes, é a
revolta contra a existência. Essa revolta contra a realidade e contra tudo o
que há, tem origem na Gnose, uma espécie de “Antropoteísmo” (religião do
homem). Para melhor entender a Gnose, recomendamos o Livro do Professor
Orlando Fedeli: “Antropóteísmo” (FEDELI, Orlando. Antropoteísmo - A Religião do
Homem. São Paulo: Editora Celta, 2011).
O fato é que os modernistas desaprenderam a pensar.
Esqueceram que todo conhecimento parte de um fato. A ciência consiste
justamente em acreditar nesse fato e em desenvolver as consequências dele.
Imaginemos que, em vez de formular a Teoria da Gravitação Universal, Newton ficasse
duvidando da queda da maçã. Imaginemos se Pitágoras resolvesse duvidar dos três
lados do Triângulo Retângulo. Não sabemos o que é mais assustador, se é o
absurdo existente nessas “filosofias” modernas, ou se é a amplitude e
penetração dessas sandices no mundo atual. Como pode haver tanta gente
acreditando nessas fraudes? Explicaremos.
Kant personifica a figura do "louco",
descrita por Chesterton no seu livro "Ortodoxia". Segundo o autor, o
louco é aquele que perdeu tudo, menos a Razão. Perdeu a Fé em Deus, daí não
consegue enxergar, ou não quer admitir sua pequenice. Perdeu a Moral, então não
será capaz de compreender a beleza por trás de um "muito obrigado".
Perdeu a humildade, por isso não consegue admitir a existência de um
"Mistério". Não acredita em nada, exceto em si mesmo. E para onde vão
aqueles que acreditam em si mesmos? Ao manicômio Hanwell*, ora. Mas não nos
enganemos. Esses loucos são capazes de enganar muita gente. Seu racionalismo é
capaz de disfarçar as heresias mais absurdas; de seduzir os “intelectuais” de
plantão. Suas explicações são sempre muito bem elaboras, mas seus frutos são
sempre maus.
Honestamente, não dá para analisar o kantismo sem lhe
atribuir uma patologia psicológica grave. Além dos erros científicos, seu
pensamento aprisionou os modernistas num cosmos muito menor do que o mundo
cristão tradicional. Vale dizer: os modernistas vivem num cosmos pequeno e sem
graça. No mundo cristão há metafísica; virtudes morais a serem alcançadas;
pecados e vícios a serem vencidos; misericórdia de Deus e Vida Eterna. No mundo
cristão nós temos dogmas que ao invés de nos prender, libertam-nos. Somos
livres para acreditar em destino, ao mesmo tempo acreditamos em livre-arbítrio.
Acreditamos na Ciência e no seu poder, mas ao mesmo tempo reconhecemos que há
mistérios que somente Deus conhece. Isso nem sempre nos leva para o céu, mas
certamente nos livra do Hanwell.
* County Asylum at Hanwell. – Instituto Mental Hanwell.
Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós.
Bruno Silveira.
Referências:
CHESTERTON, Gilbert Keith. Ortodoxia. São Paulo: Mundo
Cristão, 2008, p.264;
FEDELI, Orlando. Antropoteísmo – A Religião do Homem.
São Paulo: Editora Celta, 2011;
AQUINO, São Tomás de – Suma Teológica. Brasil: Loyola,
2001;
Concílio
do VATICANO I, Denzinger 3000 a 3075 (1869 - 1870);
Encíclica
"Humani generis", Denzinger 3875 a 3899 (1950);