08/12/16
por Javier Navascués
Traduzido por Frei Zaqueu
Santa Bernadete Soubirous teve a dita de contemplar a incomparável beleza da Santíssima Virgem. Ao não poder descrevê-la, pela limitação da linguagem humana, disse: “É tão formosa que quando a vemos, ainda que seja uma vez, queremos morrer para tornar a vê-la”. Contam seus biógrafos que quando a santa tentava imitar o sorriso e expressão da Virgem, seu rosto se tornava belíssimo e angelical, causando grande assombro nos presentes.
Celebramos com gozo
uma grande solenidade mariana em honra a sua Imaculada Concepção. O dogma de fé declara que, por uma graça especial de Deus, Ela foi
preservada de todo pecado desde sua concepção. Foi proclamado pelo
Papa Pio IX em 8 de dezembro de 1854, em sua bula Ineffabilis Deus. Séculos antes na Espanha já existia
uma grande devoção à Imaculada.
A Virgem não tem mácula de pecado. É bela
sem comparação porque Deus a preservou de toda fealdade e corrupção, consequência
do pecado original. Alguns santos viam o autêntico aspecto, terrífico e hediondo,
das almas que não estavam em graça. Não falemos mais da fealdade do pecado.
Cantemos a beleza dAquela concebida sem pecado, que esmagou a cabeça à víbora
infernal. Meditemos sobre sua beleza, não só a interior, manancial de todas as
virtudes, mas sobre sua beleza física indescritível. Limitados para compreender
mistérios tão inefáveis vamos fazê-lo através dos santos, os que melhor têm expressado
sua formosura.
O historiador D. Rafael Maria Molina, grande devoto da Virgem,
compartilha conosco as principais reflexões dos santos em torno à beleza de Nossa
Mãe do Céu.
Por que é tão difícil
descrever a beleza de Maria?
Porque é um ousado propósito falar
com a linguagem humana sobre a sublime formosura da Virgem Maria. Neste ponto
se detém a língua e se freia a escritura. Porque não é possível expressar algo
tão sublime, que não se pode compreender com nosso limitado entendimento. Não
obstante, algo temos de dizer, como crianças pequenas, se desejamos rascunhar o
retrato e álbum das perfeições da Virgem. Suas admiráveis virtudes realçam todavia
mais a formosura de sua natureza e de suas graças e são as joias com que se
adorna.
Santo Tomás de
Aquino, o doutor angélico, insiste no princípio
de que quanto mais cerca está uma coisa de sua origem tanto mais participa de
sua bondade, de sua verdade e de sua formosura soberana. Em virtude deste ensinamento,
resta claro, que a Mãe de Deus é a criatura mais próxima à Divindade, mais aparentada
com a Trindade Beatíssima e por isso lhe convinham todas as perfeições, incluída
a beleza exterior. Ademais a Santíssima Virgem conservava toda a formosura, que
nos está privada aos demais pelo pecado original. E ainda a aumentou
imensamente com a graça de sua Imaculada Concepção.
Por que convinha
que a Virgem fosse bela, não só espiritual, mas fisicamente?
Porque o corpo da
Virgem foi ordenado para que preparasse carne diviníssima ao Verbo de Deus. Por
isso convinha que seu corpo estivesse perfeitissimamente formado e que a matéria
fosse a idônea para obra tão grande como a que se havia de edificar. Cristo,
carecendo de pai terreno, foi totalmente semelhante a sua Mãe com a lógica diferenciação
de sexos. Afirma Santo Tomás de Villanova que
Cristo foi inteiramente parecido a sua Mãe não somente no aspecto senão nos costumes,
palavras e porte.
Santo Antonino diz a respeito: “A Santíssima Virgem teve uma aparência ótima e uma compleição
corporal perfeitíssima”. A alma de Maria, adornada com os mais
excelentes dotes, exigia um corpo sublime no que se refletia a plenitude da Graça
que havia recebido.
Explica o padre
Alastruey que Deus ao formar o primeiro homem tinha em sua mente a Cristo, cuja
origem tinha que vir de Adão. Tertuliano imagina a
todo um Deus ocupado e consagrado com mãos, sentido, obra e sabedoria traçando
os traços da Virgem e o afeto com que o fazia. Se Deus formou com tal cuidado o
corpo de Adão porque dele, depois de muitas gerações, tomaria carne o Verbo, muito
mais cuidado, conselho, providência e afeto havia de ter na formação do corpo e
do rosto de Maria, da qual ia nascer em uma única geração.
Como descrevem os santos
teólogos a beleza de Maria, irradiação de suas virtudes?
Todos os teólogos santos têm sido
muito devotos de Maria e seriam intermináveis as referências a sua beleza e formosura
em todas as ordens. A modo de pincelada podemos citar algumas:
Santo Ambrósio escreveu um excelente
retrato sobre a formosura da Virgem: “Nada de sombrio nem de duro em
seu olhar; nem a mais mínima suspeita de orgulho em seu gesto nem em sua forma
de caminhar. Nada de imoderado em suas palavras nem no tom de sua voz. Em todos
seus movimentos havia algo tão sublime que ao andar parecia não tanto apoiar-se
sobre a terra, como ascender a cada passo um novo degrau da perfeição”.
Santo Tomás de
Villanova expressou com precisão outra das condições da beleza de nossa Santíssima
Mãe: “A pura Imaculada Virgem fazia virgens aos que a miravam: era uma virgindade
fecunda em virgindades”.
O mesmo expressou São Boaventura, quem recebeu esta doutrina de seu mestre Alejandro de Arles, quem ensinava: “A Bem-aventurada Virgem por seu só aspecto extinguia nos que a miravam
toda imprecisão de concupiscência”. Santo
Ambrósio escreveu: “Tão grande era sua graça que não
só conservava nela a flor de sua virgindade, senão que inspirava também a todos
os que se acercavam, o amor da castidade. Como Ela visitou a São João Batista,
não é estranho que este ditoso Menino ficasse puro de corpo, pois que a Mãe do Senhor
lhe havia embalsamado durante 3 meses com o azeite de sua presença e o perfume
de sua formosura”.
São João Damasceno abundou na mesma
ideia: “Como descreverei a beleza de vosso rosto, vossa doce alegria e conversação
amável que emana de um coração todo bondade?”
São Francisco de
Sales ponderava a beleza da Virgem chamando-a aurora do dia eterno: “Ontem me dei conta da dita de ser filho, ainda que indigno de nossa
gloriosa Mãe, estrela do Mar, formosa como a lua”.
Como a descrevem os
santos que obtiveram o privilégio de tê-la visto em vida assim como os videntes
das aparições reconhecidas pela Igreja?
Lúcia de
Fátima a descreveu assim: “Levava um vestido branco que lhe
chegava quase até os pés. Lhe cobria a cabeça um manto branco e da mesma
largura. Seu vestido tinha dois cordões dourados que caíam do pescoço e se
juntavam em uma borla dourada à altura da cintura. A idade que representava era
de uns 15 anos. O resplendor que a envolvia era mui brilhante e mais bonito que
a luz do sol. Seus pés eram de cor branca, creio que levava meias”.
Maximino Giraud e Melanie
Mathieu (as crianças de La Salette): “A Senhora era alta e de aparência
majestosa. Tinha um vestido branco com um avental cingido à cintura, não se poderia
dizer que era de cor dourada pois estava feito de uma tela não material, mais brilhante
que muitos sóis. Sobre seus ombros luzia um precioso xale branco com rosas de
diferentes cores nos bordes. Seus sapatos brancos tinham o mesmo tipo de rosas.
De seu pescoço pendia uma cadeia com um crucifixo. De sua cabeça uma coroa de
rosas irradiava raios luminosos como um diadema. Em seus preciosos olhos, as
lágrimas rodeavam suas bochechas. Uma luz mais brilhante que o sol mas distinta
deste lhe rodeava.
Santa Catarina
Labouré: “Cri ouvir um roçar como de um vestido de seda e vi à Santíssima
Virgem. De mediana estatura, seu rosto era tão belo que não poderia descrevê-lo”.
Santa Teresa de Jesus descrevia assim
à Rainha do Céu: “Era grandíssima a formosura que vi em Nossa Senhora,
vestida de branco com grandíssimo resplendor que não deslumbrava porque era
suave. Me parecia Nossa Senhora mui Menina...”
Para concluir estas
reflexões sobre sua beleza, o gozo dos bem-aventurados no céu se aumenta pela presença
e visão da gloriosíssima Virgem Maria?
Efetivamente. Por exemplo Dionísio o Cartuxo, importante asceta medieval, afirmava: “A presença e a vista da Virgem no Reino dos Céus aumenta inefavelmente
o prêmio dos bem-aventurados”.
A famosa obra
mariana, Tratado da Virgem Santíssima do canônico Gregório
Alastruey, um dos maiores textos marianos em espanhol do século XX, insiste
neste ponto. Como o gozo nasce do amor, quanto mais se ama a alguém mais se
goza em sua presença em contemplação e estando em sua companhia. As almas salvas
sabem, e têm conhecimento disso no céu, que a sua salvação a têm devido mais à Santíssima
Virgem que a todos os santos juntos.
O conhecer, como então sabemos, que em
tantas ocasiões nossa querida Mãe nos salvou de perigos e ocasiões de pecados,
nos encherá de gratidão por Ela. O saber que talvez íamos morrer em pecado
grave e sua intercessão nos concedeu tempo de conversão, fará que a amemos com grande
intensidade filial, como filhos perpetuamente agradecidos. E isso nos fará imensamente
felizes desfrutando ademais de sua eterna companhia de uma forma parecida a
como um menino mui pequeno se sente imensamente feliz somente com saber que tem
a sua mãe próxima.
São Leonardo de
Porto Mauricio, extraordinário pregador do século XVIII dizia que quando entremos no
Céu “veremos a nossa soberana Imperatriz acolhendo-nos
com um amabilíssimo sorriso e fixando em nós um desses olhares que enamoram ao
Paraíso. Cheia de alegria nos dirá: “Vinde que eu também quero abençoá-los”. Lançando-nos
seus braços ao pescoço nos dará um abraço de Mãe”.
Javier
Navascués
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Fonte:
http://adelantelafe.com/la-belleza-fisica-maria-inmaculada/