Eis a cadeira |
Uma placa já desgastada e abandonada informa que fora naquele templo que Frei Caneca fora destituído de suas vestes sacerdotais. O local evoca história nossa, o passado de Pernambuco, embebido de sangue, traição à Igreja, lutas intestinas e tentativa de implantar um iluminismo tropical, encabeçado por pessoas que deveriam sobretudo curar as almas, mas que se emaranharam pela política.
O templo em seu interior é de uma simplicidade comovente. Pequeno templo, uma nave pequena, limitada por uma cerca que deixa um bom espaço nas laterais. O que se tem de ver nesse pequeno templo é o altar.
Porém, eis a ingrata surpresa ao fitar o belo altar do barroco pernambucano: uma cadeira fixa de mármore!!! Na foto que está neste texto é fácil achar dentro do círculo preto. Alguns brincando chamam-na de cadeira do He-Man.
Uma cadeira de mármore, uma mesa quadrada de mármore e um púlpito de mármore. Nem a intervenção artística dos modernistas mais radicais teria a ousadia de avançar tanto assim. A cadeira infelizmente desnaturou o altar, manchou a incolumidade da história, enfeiou o templo. Além do mais, com essa cadeira no altar, creio que seria quase impossível a celebração da missa no Rito Antigo, tão em voga nesses tempos e que retomou o alento após Bento XVI.
Havia outrora uma mesa móvel, de madeira, também com certa beleza, que poderia fazer as vezes da mesa fixa de mármore; havia tantas belas cadeiras de madeira, tantos púlpitos de madeira; mas não, preferiram encravar uma pesada peça que não tem relação alguma com nada, com o templo, com a história. É quase tão absurdo como iluminismo na cabeça de padre, como foi aquele que entrou na cuca do Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca.
Falta alguém de coragem para pedir que parem essas intervenções destrutivas. Uma das senhoras que estava na igreja e que ajuda no serviço lamentou o ocorrido e disse que na de Santa Rita fizeram, na da Penha também tem algo semelhante. Eu diria que mais do que indignação, deu uma certa tristeza.
Antonio Manuel, 09 de janeiro de 2017.