Nota: O texto a seguir foi escrito por Rainero Sacconi, antigo bispo cátaro, que se converteu e passou a combater a heresia. Nele, o prelado levanta causas que fazem surgir as diversas heresias que, se analisadas detidamente, não diferencia muito da razão por que os erros se espalham com tanta intensidade nos dias presentes.
A primeira causa da heresia
é a vaidade. A SEGUNDA É A DE QUE TODOS
OS HERÉTICOS, HOMENS E MULHERES, PEQUENOS E GRANDES, DIA E NOITE, NÃO CESSAM DE
ENSINAR E DE ESTUDAR. Pois os trabalhadores, trabalhando durante o dia,
estudam ou ensinam à noite; e por se dedicarem ao estudo, possuem pouco tempo
para a oração. Eles ensinam e estudam sem livros; mesmo em casa de leprosos,
estudam e ensinam. Como introdução
ensinam as pessoas a evitarem os sete pecados mortais e três outros, maliciar,
mentir e difamar e praguejar e jurar. Fundamentam isso em várias autoridades, e
chamam de os Dez Mandamentos. Na maioria das vezes, um converso de dez dias
procurará outro para ensiná-lo, de modo que uma cortina corre a outra (alusão
ao Êxodo 36.10).
Se alguém se desculpa dizendo “Não posso estudar” eles então lhes respondem: “Estude então somente uma palavra por dia; e no fim de um ano você acabará sabendo trezentas; e assim você progredirá”. Isto que digo é verdade; um certo herético, com o propósito de desviar um homem da nossa fé, nadou com ele durante uma noite de inverno através do rio Ibs. Daí podermos recriminar a negligência dos mestres católicos que não são tão zelosos pela verdade de sua fé, como o são estes heréticos pelas suas crenças enganosas. A terceira causa da heresia é a de que eles traduziram o Velho e o Novo Testamento para língua vulgar, e assim ensinam-nos e estudam-nos. Eu ouvi e vi um homem rústico e ignorante que repetia Jó, palavra por palavra; e muitos conheciam perfeitamente o Novo Testamento. E, vendo que eles eram gente ignorante, expunham as Escrituras falsa e corruptamente... Eles prescrevem que sua doutrina seja escondida dos clérigos.
Assim como certas pessoas conversam por meio de sinais conhecidos apenas por eles, os heréticos empregam palavras cujo significado é entendido somente por eles. Chamam uma igreja de casa-de-pedra; um altar de pilar-de-pedra; o clero de escribas, os monges e frades de fariseus, e assim com outras coisas. Eles nunca dão respostas diretas.
A quarta causa das heresias é o escândalo causados por certos homens de má conduta. Por isso, quando eles vêem um homem de má conduta, dizem: “Os Apóstolos não viviam assim; nem tampouco nós, que somos seus imitadores”.
A QUINTA CAUSA É O CONHECIMENTO INSUFICIENTE DE ALGUNS CATÓLICOS QUE PREGAM MUITAS VEZES FRIVOLIDADES E MUITAS VEZES FALSIDADES. Daí, quando um doutor da Igreja ensina algo que ele não prova por um texto do Novo Testamento, eles consideram como uma mera fábula. A SEXTA CAUSA É A IRREVERÊNCIA COM QUE CERTOS MINISTROS DA IGREJA TRATAM OS SACRAMENTOS. A sétima causa é o ódio que tem contra a Igreja. Eu ouvi da boca de heréticos que eles se propunham a reduzir o clero e os religiosos à situação de escavadores, tirando-lhes os direitos e as possessões, pela ação e força da multidão de seus seguidores e cúmplices. Um certo heresiarca chamado Henrique, um Cheroin, foi levado à morte; ele gritou para que todo mundo ouvisse: “Vocês nos condenam justamente, porque se vosso poder fosse diminuído, nós usá-lo-íamos contra vocês todos – clérigos, religiosos e leigos – este mesmo poder que agora vocês utilizam contra nós”. Mas em todas as cidades da Lombardia e da Provença e de outros reinos e territórios há muito mais escolas de heréticos do que de teólogos, e mais oradores diputando publicamente e desafiando o povo a discussões formais. Eles pregam no mercado e nos campos e nas casas, e ninguém se atreve a impedi-los, devido ao poder e à multidão de seus sequazes. Eu, por várias vezes, estive presente na inquirição e exame de heréticos; e nós pudemos enumerar cinquenta e uma escola de heréticos na Diocese de Passau.
Se alguém se desculpa dizendo “Não posso estudar” eles então lhes respondem: “Estude então somente uma palavra por dia; e no fim de um ano você acabará sabendo trezentas; e assim você progredirá”. Isto que digo é verdade; um certo herético, com o propósito de desviar um homem da nossa fé, nadou com ele durante uma noite de inverno através do rio Ibs. Daí podermos recriminar a negligência dos mestres católicos que não são tão zelosos pela verdade de sua fé, como o são estes heréticos pelas suas crenças enganosas. A terceira causa da heresia é a de que eles traduziram o Velho e o Novo Testamento para língua vulgar, e assim ensinam-nos e estudam-nos. Eu ouvi e vi um homem rústico e ignorante que repetia Jó, palavra por palavra; e muitos conheciam perfeitamente o Novo Testamento. E, vendo que eles eram gente ignorante, expunham as Escrituras falsa e corruptamente... Eles prescrevem que sua doutrina seja escondida dos clérigos.
Assim como certas pessoas conversam por meio de sinais conhecidos apenas por eles, os heréticos empregam palavras cujo significado é entendido somente por eles. Chamam uma igreja de casa-de-pedra; um altar de pilar-de-pedra; o clero de escribas, os monges e frades de fariseus, e assim com outras coisas. Eles nunca dão respostas diretas.
A quarta causa das heresias é o escândalo causados por certos homens de má conduta. Por isso, quando eles vêem um homem de má conduta, dizem: “Os Apóstolos não viviam assim; nem tampouco nós, que somos seus imitadores”.
A QUINTA CAUSA É O CONHECIMENTO INSUFICIENTE DE ALGUNS CATÓLICOS QUE PREGAM MUITAS VEZES FRIVOLIDADES E MUITAS VEZES FALSIDADES. Daí, quando um doutor da Igreja ensina algo que ele não prova por um texto do Novo Testamento, eles consideram como uma mera fábula. A SEXTA CAUSA É A IRREVERÊNCIA COM QUE CERTOS MINISTROS DA IGREJA TRATAM OS SACRAMENTOS. A sétima causa é o ódio que tem contra a Igreja. Eu ouvi da boca de heréticos que eles se propunham a reduzir o clero e os religiosos à situação de escavadores, tirando-lhes os direitos e as possessões, pela ação e força da multidão de seus seguidores e cúmplices. Um certo heresiarca chamado Henrique, um Cheroin, foi levado à morte; ele gritou para que todo mundo ouvisse: “Vocês nos condenam justamente, porque se vosso poder fosse diminuído, nós usá-lo-íamos contra vocês todos – clérigos, religiosos e leigos – este mesmo poder que agora vocês utilizam contra nós”. Mas em todas as cidades da Lombardia e da Provença e de outros reinos e territórios há muito mais escolas de heréticos do que de teólogos, e mais oradores diputando publicamente e desafiando o povo a discussões formais. Eles pregam no mercado e nos campos e nas casas, e ninguém se atreve a impedi-los, devido ao poder e à multidão de seus sequazes. Eu, por várias vezes, estive presente na inquirição e exame de heréticos; e nós pudemos enumerar cinquenta e uma escola de heréticos na Diocese de Passau.
(RAINIERO SACCONI, “Contra
sectam Waldensium”, em DE LA BIGNE, Maxima
Bibliotheca Veterum Patrum, t. XXV, pp. 266 e ss.)
Extraído do livro Heresias
Medievais, de Nachman Falbel, Editora Perspectiva, 1977, p. 103.
Rainiero
Sacconi (1190-1258), autor da Summa de Catharis et Leonistis seu pauperibus de Lugduno,
anteriormente bispo cátaro.[1] Rainiero
era “Pefeito” da seita cátara, mas converteu-se à Igreja e passou a combater a
heresia.