Em toda a
Europa, vê-se uma contradição entre todo o patrimônio histórico antigo e as
construções modernas. Veem-se também contradições entre muitos turistas que
dizem odiar a Monarquia, o catolicismo e a Idade Média, mas pagam caro para ver
as construções das realezas, da Igreja e as medievais.
A Notre Dame
de Paris, por exemplo, é bem mais visitada que a destoante torre de
Montparnasse, mas não deveria ser o contrário? Afinal, a primeira é obra da “horrenda”
Igreja medieval e a segunda é uma torre alta, tal como um menir gigantesco, e moderna
do último quartel do século XX.
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Fig. 1 Biblioteca da Univ. de Coimbra: beleza que impõe respeito |
Na
tradicional Universidade de Coimbra, onde um dia os professores juravam
defender a fé e a ensinar o tomismo, existe uma das mais belas bibliotecas do
mundo, a dita “Joanina”.
Construída a
mando de D. João V, tem paredes de 3 metros de espessura para manter a
temperatura constante durante o ano. As madeiras usadas, vindas do Brasil e do
Oriente, foram escolhidas de modo a controlar a umidade do local.
Há morcegos
que durante o dia permanecem escondidos e que durante a noite saem e fazem “serviço
de limpeza” contra insetos, por causa disto não é necessário usar inseticidas
contra traças e outros bichinhos que danificam os livros.
Biblioteca é um local destinado à guarda de
livros, normalmente, de forma organizada. A Joanina, além de cumprir este
objetivo, é bela, além de estocar o saber, ela ensina pelo simbolismo.
Ressaltamos estes pontos:
1) Contraste entre o exterior simples e o interior
rico, como é comum no barroco, ensina que a boa riqueza é a interior.
2) Organização e hierarquia. Pois todo o
conhecimento tem de estar organizado na mente da pessoa com hierarquia de
matérias.
3) Proporção. Toda a biblioteca é proporcionada
entre a altura, comprimento, largura e decoração. Digamos que ela também é
proporcional à “Suma Teológica” e a “Os Lusíadas”.
4) Decoração. Bem detalhista para simbolizar
que todo o conhecimento deve varrer vários campos. Muitos dos temas decorativos
remetem ao que se estuda, fazendo uma ponte entre o simbólico e o que se
aprende pelos livros.
5) Beleza. Não existe verdade sem beleza nem
beleza sem verdade.
6) Solenidade. O conhecimento é posto como algo sério.
7) Silêncio. A meditação e o estudo são incompatíveis
com o barulho do mundo.
8) Perpetuidade. Por ser rica e sólida, não foi
construída para pouco tempo, mas para sempre. Todo o conhecimento tem de ser
passado para as gerações futuras.
9) O quadro de D. João V existe para ensinar o
valor da Monarquia, que no caso de Portugal, forjou a boa alma da Nação.
10) Como última análise, podemos dizer que ela
é um “Trivium arquitetônico” porque a
biblioteca visa ao conhecimento, com regras e de modo esteticamente elevado.
Se ela já não tem mais valor prático como teve
outrora, porque as obras podem ser encontradas na internet e em outros lugares,
o simbolismo e a história não a deixam perder o posto de uma biblioteca
majestática.
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Fig. 2 Riqueza e solenidade |
Próximas da
Universidade de Coimbra, existem as famigeradas “repúblicas estudantis”, que
são moradas de alunos. Originalmente estas moradias foram criadas pelo rei Dom Dinis. Que
contradição! São chamadas de “repúblicas”, mas foram criadas pela Monarquia.
Nas ruas onde elas se encontram, lamentavelmente,
veem-se pichações escarrando chavões comunistóides e “relinchos” modernistas.
Algumas “repúblicas” apresentam faixas e
dizerem em seu exterior, como a da foto abaixo (fig.3) que passamos a analisar.
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Fig. 3 Uma república de Coimbra |
1) Vemos apenas o exterior. Se na biblioteca, a
beleza e a inteligência são internas, nas repúblicas, a ignorância e a feiura
são externas. Não contente em se pensar erradamente (pelo cartaz visível)
quer-se que todos saibam disto. Deduzimos que o interior seja similar ao
exterior.
2)Desproporção entre as faixas e lençóis.
3) Feiura explícita.
4) Não visa ao conhecimento, mas a papagaiar “slogans”
que são conclusões sem premissas.
5) Desorganização das ideias, pois nestes
dizeres: “contra a hierarquia e o autoritarismo”, os pobres estudantes não
percebem a contraposição, posto que já hierarquizaram
colocando em destaque este dizer e não outro.
E ao colocar a faixa de modo impositivo sem argumentação, já
manifestaram algo de autoritarismo.
6) Paixão do momento. Obviamente, os cartazes não
são feitos para durar muito nem na
fachada, e (esperamos) nem na mente dos alunos.
Pobres estudantes que não aprenderam a lição da
biblioteca da Universidade onde estudam! E não precisaria ler nenhum livro dela,
o simbolismo da biblioteca já de per si ensina, como se fosse um alfarrábio.
A comunicação visual era feita desde a Grécia
Antiga, com apogeu na Idade Média, com o objetivo de ensinar por meio de símbolos
pictóricos os analfabetos.
O séc. XX e o XXI parecem que padecem de duplo
analfabetismo...
Mas, sejamos justos, o nome “república” combina,
pois assim como as repúblicas emporcalharam a vida das nações, as estudantis
parecem fazer o mesmo em relação à Universidade. Se Portugal tivesse sido uma
República na época das navegações, talvez nem tivesse conseguido passar por
Gibraltar, quanto mais por Taprobana.
Pobre República que fez as repúblicas.
Viva a Monarquia católica que fez a Biblioteca.
Marcelo Andrade, São Paulo, 13 de janeiro de
2017