Uma das passagens mais dramáticas da história universal
foi o pensamento engendrado por Lutero quando estava sentado no trono da torre.
Esse episódio ficou marcado na história como o “acontecimento da torre”, que, a
bem dizer, em linguagem franca e direta era o w.c.
Brentano, biógrafo de Lutero, diz que as ideias dogmáticas imaginadas por Lutero
formaram-se inconscientemente no seu pensamento, para apaziguar-lhe as angústias
nervosas[1].
Ainda que a conclusão do aurtor seja toda ela baseada em fatos da conturbada
vida do pai do protestantismo, não seria exagerado considerá-la correta. Os
excessos de escrúpulos faziam de Lutero um homem obsessivo e angustiado com
seus pensamentos.
Fato é que o acontecimento da torre mudou a humanidade.
Foi lá que Lutero cunhou, no meio da imundície e do mal cheiro, sua ideia do sola fide.
Com efeito, o “reformador” não aceitava a realidade de um
Deus justo, que pune. Para se desvincilhar da justiça divina chegou à conclusão
que a justificação de Deus se manifesta sem a ação da lei. Ao concluir isso,
diz: Compreendi que a justificação diante de Deus, é a que justifica (faz
justos) aqueles que creem.[2]
Nasce aqui todo o subjetivismo que será propugnado por
Descartes, Kant e vai desembocar em vários segmentos do conhecimento humano,
como arte, direito, cultura, política e obviamante a própria religião.
O julgador do homem passou a ser o próprio homem, sendo
assim, a conclusão que sobra é que não há conduta moral a seguir, tudo passa a
ser uma mera utilidade, como fazer bem ao próximo. É útil à sociedade, mas
inócuo para a salvação. Lutero inaugura o pensamento orgulhoso por definição: o
homem passa a ter como referência para a relação com Deus o próprio homem.
Ora,
para esse pensamento invadir o campo filosófico seria um passo, e eis o brado
de Descartes: Penso, logo existo. O
que é extrínseco ao pensamento do homem é completamente fora do real. O homem,
ou melhor, o pensamento humano cria a realidade, assim como, com Lutero, o ato
de fé/confiança faz do homem um ser justificado.
Descartes justificou o conhecimento do homem a partir
dele mesmo, que passou a ser como Deus, senhor criador de todas as coisas. É
uma decorrência lógica da conclusão luterana, é uma obviedade cristalina.
O sola fide de
Lutero criou o racionalismo religioso (imanentismo) e no campo filosófico foi o
nascimento do racionalismo renascentista que irá culminar com o pensamento
ilimunista e todas os desdobramentos que dele decorre, como o comunismo
científico do século XX. Lutero tinha um Lênin em seu ventre.
Ao perverter o conceito de fé, Lutero foi a faisca que
acendeu uma cadeia de pensamentos que serviram grandemente para enlouquecer o
mundo.
Antonio Manuel,
Recife, 30 de maio de 2017.