30 maio, 2017

LUTERO, PAI DE DESCARTES


            Uma das passagens mais dramáticas da história universal foi o pensamento engendrado por Lutero quando estava sentado no trono da torre. Esse episódio ficou marcado na história como o “acontecimento da torre”, que, a bem dizer, em linguagem franca e direta era o w.c.

            Brentano, biógrafo de Lutero, diz que as ideias dogmáticas imaginadas por Lutero formaram-se inconscientemente no seu pensamento, para apaziguar-lhe as angústias nervosas[1]. Ainda que a conclusão do aurtor seja toda ela baseada em fatos da conturbada vida do pai do protestantismo, não seria exagerado considerá-la correta. Os excessos de escrúpulos faziam de Lutero um homem obsessivo e angustiado com seus pensamentos.

            Fato é que o acontecimento da torre mudou a humanidade. Foi lá que Lutero cunhou, no meio da imundície e do mal cheiro, sua ideia do sola fide.


            Com efeito, o “reformador” não aceitava a realidade de um Deus justo, que pune. Para se desvincilhar da justiça divina chegou à conclusão que a justificação de Deus se manifesta sem a ação da lei. Ao concluir isso, diz: Compreendi que a justificação diante de Deus, é a que justifica (faz justos) aqueles que creem.[2]

            Nasce aqui todo o subjetivismo que será propugnado por Descartes, Kant e vai desembocar em vários segmentos do conhecimento humano, como arte, direito, cultura, política e obviamante a própria religião.

            O julgador do homem passou a ser o próprio homem, sendo assim, a conclusão que sobra é que não há conduta moral a seguir, tudo passa a ser uma mera utilidade, como fazer bem ao próximo. É útil à sociedade, mas inócuo para a salvação. Lutero inaugura o pensamento orgulhoso por definição: o homem passa a ter como referência para a relação com Deus o próprio homem.

Ora, para esse pensamento invadir o campo filosófico seria um passo, e eis o brado de Descartes: Penso, logo existo. O que é extrínseco ao pensamento do homem é completamente fora do real. O homem, ou melhor, o pensamento humano cria a realidade, assim como, com Lutero, o ato de fé/confiança faz do homem um ser justificado.

            Descartes justificou o conhecimento do homem a partir dele mesmo, que passou a ser como Deus, senhor criador de todas as coisas. É uma decorrência lógica da conclusão luterana, é uma obviedade cristalina.

            O sola fide de Lutero criou o racionalismo religioso (imanentismo) e no campo filosófico foi o nascimento do racionalismo renascentista que irá culminar com o pensamento ilimunista e todas os desdobramentos que dele decorre, como o comunismo científico do século XX. Lutero tinha um Lênin em seu ventre.

            Ao perverter o conceito de fé, Lutero foi a faisca que acendeu uma cadeia de pensamentos que serviram grandemente para enlouquecer o mundo.
            
Antonio Manuel,
Recife, 30 de maio de 2017.




[1] BRENTANO, Frantz-Funck. LUTERO. Ed. Flos Carmeli. 2017, p. 60.
[2] Ibidem