Num
mundo afogado por tecnologias e por jogos eletrônicos de toda a sorte, tais
como os videogames, os infames “joguinhos” de celular e de computador, etc, um
jogo antigo que ainda se destaca, de forma surpreendente, é o xadrez.
Jogo proporcional à beleza da sala e às roupas dos cardeais. |
Sua origem
remota se encontra na Índia e na Pérsia, e sua forma definitiva foi
estabelecida na Europa do século XV, na Itália e na Espanha.
Por
causa de sua origem indiana e persa, o xadrez permitiria simbologia ruim e
mística.
Em que
pese esta possibilidade, ainda que atenuada na sua forma definitiva, o xadrez
possui simbolismos interessantes e corretos que motivaram este trabalho.
Na
Idade Média, religiosos e sacerdotes fizeram sermões utilizando o xadrez como
metáfora para a religião e a moral.[2]
Santa
Teresa de Ávila, padroeira do xadrez, cita o jogo em seu livro “Caminho da
Perfeição”.
Podemos
relacionar os seguintes valores simbólicos do xadrez:
- Desigualdade.
As peças do xadrez são desiguais quer em movimentos quer em importância. A
desigualdade é que permite a riqueza do jogo, desta forma o xadrez ensina que a
desigualdade é um bem e não a igualdade.
- Monarquia.
É um jogo monárquico, pois o rei é a peça mais poderosa e tudo gira em volta da
defesa do próprio rei e ataque ao rei do adversário.
- Valor
do sacrifício. O jogador sacrifica as peças visando melhor posicionamento e
estratégia. Isto pode simbolizar os mártires ou os heróis nas guerras.
- Apoio.
Normalmente não se pode dar xeque-mate sozinho, é preciso ao menos duas peças,
os homens precisam ajudar-se uns aos outros.[3]
- Promoção-recompensa.
Os peões só podem ser promovidos após chegarem ao final, como que premiados por
mostrar o valor em combate. Na Idade Média, normalmente, só era feito cavaleiro
quem mostrava bravura em combate.
- Estratégia
e lealdade. O xadrez é jogo aberto, não há “cartas na manga” nem se pode
esconder as jogadas como se faz em outros jogos.
- Prudência.
É necessário estudo, a compreensão do passado, a inteligência do presente e a
previsibilidade do futuro para se jogar bem.
- Independência
da força e das habilidades físicas. É um jogo meramente mental. Se os
contendores forem bem inteligentes podem até jogar sem tabuleiro.
- Sujeição
do material ao espiritual. Possuir mais peças é inferior a ter posicionamento
melhor.
-
Desapego. No jogo há que se desapegar das peças para poder vencer.
Simbolismo
das peças:
1)
Rei: a peça principal, pois não pode ser perdida, seus movimentos são limitados.
Ele transparece humildade, pois deixa as outras peças atuarem. Pode representar
a Cristo, pois, podemos perder tudo nesta vida menos a Ele. E se tomarmos “xeque-mate”
no começo, pode significar que não adianta ter todos os bens da terra e perdê-Lo.
A autoridade do rei pode ser simbolizada pela razão de que ele não se move
muito, seus súditos é que devem fazê-lo. Porém, quando é necessário,
normalmente em fim de jogo, ele entra em ação.
2)
Dama. Peça mais poderosa do Xadrez, embora o Rei seja mais importante, representando o valor da mulher.
3)
Torre. Representa bem o lado material do xadrez, alusiva às torres móveis das
batalhas medievais. Lembra que o homem é matéria também e ela é boa.
4)
Bispo. O lado religioso do jogo não é esquecido, afinal não podemos viver sem a
Igreja.
5) Cavalo.
Melhor dizer cavaleiro ou cavalaria. Remete à beleza das ordens da cavalaria. Os
cavalos sabem pular as peças, superam bem os obstáculos.
6)
Peão. O combatente simples, mas que não sabe recuar e enfrenta até inimigos
mais poderosos e que pode ser promovido se mostrar valentia.
O jogo
como um todo pode ter algumas figuras interessantes, nele há várias dualidades
presentes: vício e virtude, campo e cidade, corpo e alma etc.
Alguns
simbolismos do xadrez, visto como um todo:
Xadrez
e debate. O xadrez pode simbolizar um duelo intelectual, no qual os dois
competidores fazem uma disputa. Cada peça tomada é um argumento vencido. O
xeque mate é bem representativo de uma vitória final, no qual, todos os
argumentos do opositor foram vencidos e foi apresentado um argumento decisivo e
inescapável, que fulminou o pensamento do adversário.
Xadrez
e vida espiritual. Com base em Santa Teresa D´Ávila, os movimentos das peças de
xadrez são como exercícios espirituais e o “xeque-mate” é como um em Deus que
não pode recusar os pedidos e os exercícios, “obrigando” a Deus a conceder o
que se pede.
Xadrez
e labirinto. O xadrez é um labirinto dinâmico no qual os becos sem saída são
jogadas infelizes e as boas são os caminhos com saída. A vida é um labirinto.
Xadrez
e o caminho para a virtude. No caminho para a virtude são necessários
sacrifícios, haverá perdas e pequenas derrotas e o xeque-mate é a vitória
final. As ciladas do jogo são como as do demônio que temos de superar.
Xadrez
e a história. A história é a luta entre a cidade dos homens e a cidade de Deus,
representado pelas peças brancas e pretas.
Por
fim, não há jogo, hoje em dia, mais elevado e simbólico que o xadrez. Como o
simbolismo transcende a matéria, nos leva a um plano mais espiritual. Nosso
mundo é muito materialista, daí a importância do simbolismo.
O
xadrez é um jogo que deve ser incentivado, pois só trás benefícios. E os “jogos
eletrônicos” evitados.
O
xadrez não deixa de ser mais um legado do Catolicismo.
Marcelo
Andrade, de São Paulo para o Recife.
[1]
Agradeço as observações de Edson Dalla Vecchia, professor de física e de xadrez
na Escola São Mauro.
[3]
Há exceções: É possível dar mate só com uma peça, por exemplo, o mate de gaveta
(quando o rei está fechado com seus piões no roque; e a torre ou dama desce na
oitava casa, ou o cavalo, quando o rei está cercado por peças e não há como
tomar o cavalo.