João Olivi foi
autor fecundo. Na sua época ficou conhecido pelo epíteto de doutor especulativo. Foi professor do espiritual Ubertino de Casale, também
herege como ele, e que se encontrava no mosteiro beneditino como personagem de
Umberto Eco, no romance O Nome da Rosa.
Influenciado
pela noção da teologia da história, na mesma senda de Joaquim de Fiore, Pedro
Olivi fez comentários acerca do Apocalipse. Dizia-se, portanto, que estavam no
fim da sexta idade da Igreja, que começara com São Francisco, e que a Igreja
carnal, a Babilônia, a grande prostituta, seria rejeitada por Cristo, como
outrora a sinagoga dos judeus.[1]
Para os
seguidores de Olivi, haveria duas espécies de Anticristos, um espiritual e
outro verdadeiro e principal. Na época identificaram esse Anticristo simbólico
ao Papa João XXII. Vale acrescentar que para os adeptos da seita beguina, local
de disseminação das ideias do herege Olivi, os prelados e religiosos que
usassem roupagens supérfluas e ricas agiam contrariamente à perfeição
evangélica e aos preceitos de Cristo.
Ora,
essa é a tônica atual do discurso de alguns prelados da Igreja que, sob a falsa
compreensão de humildade e pobreza evangélica, passaram a se despir de toda
dignidade própria de que seu estado eclesiástico simboliza. O minimalismo
passou a tomar conta daquela nota distintiva do sacerdote a ponto de, na vida
civil, despir-se completamente da batina, e tornar-se mais um no meio da
multidão, com chinelo franciscano e roupa surrada.
Assim,
não parece que se afigura tão distante os ecos das prédicas dos heresiarcas do
passado quando, mormente após o Concílio Vaticano II, o papa João XXIII quis a “reconstituição e renovação da Igreja
universal”.
Vide
que o discurso do Papa não é tão diferente do de João Olivi: É necessário
reconstituir, voltar às origens dos preceitos de Cristo, sem as pompas, e de
chinelo franciscano. Em seu discurso de
13/11/60 o papa Roncali disse textualmente que a igreja deveria voltar à sua
origem e se apresentar tal como o Senhor a fez, “sem manchas e sem rugas”. Não é demais ressaltar que o ataque a
essa “Igreja carnal” se deu nas vestes dos sacerdotes, na arquitetura das
igrejas, e, o mais grave, na própria liturgia, tirando tudo aquilo que se dizia
supérfluo.
Todos
os que minimamente percebem a realidade sabe que houve uma “misteriosa
autodemolição” da Igreja a partir do CVII. Igrejas destruídas, altares
quebrados, padres que abandonaram a batina, crise moral no clero, avanço da
apostasia entre os fiéis, guerra e destruição.
O
que tudo isso tem com João Olivi? Interessante uma de suas profecias... A volta às origens da Igreja a levou a essa
destruição, isso é patente. Parece que a “Igreja carnal”, ou seja, a Igreja
oficial, foi atingida e de tão chagada agoniza entre os escombros. Na Europa o catolicismo
é quase peça de museu. De acordo com a revelação feita a Pedro João Olivi, em
Narbona, após a destruição da Igreja carnal viriam os sarracenos, ou seja, os
muçulmanos, e ocupariam a terra dos cristãos.
Essa
profecia é espantosamente de acordo com o que ocorre hoje na terra dos
cristãos, na Europa, onde o catolicismo virou quase lembrança do passado.
Assustadora a profecia; ou seria um plano antigo, ou talvez apenas a aplicação
de um princípio? De todo modo parece que João Olivi voou pelo tempo histórico e
antecipou naquela época o que ocorre hoje.
Que
a Igreja de Cristo, fincada na promessa a São Pedro, ressurja como luz para
esses tempos sombrios. Que o papa, fator de unidade na terra dos cristãos,
tenha força para lutar contra os lobos vorazes.
Recife,
29 de agosto de 2017
Antonio
Manuel