08 dezembro, 2017

PEREGRINAÇÃO AO MORRO DA CONCEIÇÃO

Imaculada Conceição
Ainda era madrugada e nos reunimos de fronte à pequena capela de Nossa Senhora da Conceição das Barreiras, no frondoso Parque da Jaqueira, e seguimos caminhando para o Morro da Conceição. Éramos 5 homens e iniciamos com o canto da Ave Maria em latim, seguido de algumas orações e da recitação do rosário.

No caminho da madrugada, por volta das 4horas, praticamente nenhum transeunte nas ruas, a não ser os barulhos dos carros, táxis, caminhões. Apesar do horário, um carro atrevido passou com um som muito alto, quebrando a paz da madrugada.

Com pouco tempo de caminhada, estávamos na Av. Norte, tristemente renomeada para Av. Miguel Arraes de Alencar. A Avenida é um cenário de guerra. Calçadas irregulares, um ou outro bar aberto, com os remanescentes das noitadas, em suas tristezas de fim de festa, casas desordenadas, uma feiura só.

Mais à frente um aceno de flanelinha a vigiar os carros que se dirigiam ao morro nos alertava que o destino estava próximo. Mais bares, mais fins de noitadas, cervejas, som alto, bregas, funk, tatuagens, gargalhadas. Chegamos ao pé do morro.


Pegamos um caminho à direita e fomos serpenteando a ladeira um pouco íngrime. Uma infinidade de mendigos com expressões de cansaço jazia nas calçadas, com algum aparato na mão estendida, a esperar alguma generosidade dos passantes. Quase toda calçada da ladeira era palmilhada por mendigos.

De repente, um pouco ao longe, vindo do alto de um prédio de dois andares, chegava-nos um som que ia ficando cada vez mais alto. A letra da música era indizível. Tivemos que parar a recitação dos últimos mistérios do rosário, em respeito à Nossa Senhora, e também porque o som abafava a nossa voz. Causa impressão a completa falta de respeito dos que ali estavam gozando “mais um feriado”. Pessoas desciam e subiam as escadas sem camisa, com copos de cerveja, sons de péssimo gosto de canto a outro. Seria difícil acreditar que mais acima houvesse uma Igreja, que se celebrava a Imaculada Conceição da mãe de Deus.

Chegamos ao topo. Um grupo dava urras porque a polícia, fortemente presente, levava rendida duas mulheres que brigavam, foi o que deu para escutar. Pouco mais à frente convivia a missa campal, apinhada de gente, bares cheios, músicas, cachaça, fedor horrível de excrementos vindo dos banheiros químicos.

Andamos e seguimos para rezar os últimos mistérios aos pés da Virgem Santa, conforme a foto aqui tirada. Muita gente aos pés da imagem. Apesar de toda a balbúrdia por que passamos, havia paz aos pés de Nossa Senhora. Rezamos, cantamos o último canto do roteiro, fizemos nossas orações particulares.

Apesar de tudo o que vimos, valeu muito à pena. É sempre reconfortante rezar aos pés da Imaculada Conceição. Comove, nesse mundo tão afeito ao prazer material, ver peregrinos pagando suas promessas, rezando e louvando a santa mãe de Deus. Esperamos em Deus que cesse a dessacralização da festa e que ao menos se volte, ainda que lentamente, a uma maior seriedade e conscientização de que ali viceja sobretudo um evento religioso. Os padres teriam muito a contribuir nisso.

Viva a Imaculada Conceição!

Recife, 8 de dezembro de 2017.


Antônio Manuel