Imaculada Conceição |
Ainda era madrugada e nos
reunimos de fronte à pequena capela de Nossa Senhora da Conceição das Barreiras,
no frondoso Parque da Jaqueira, e seguimos caminhando para o Morro da
Conceição. Éramos 5 homens e iniciamos com o canto da Ave Maria em latim,
seguido de algumas orações e da recitação do rosário.
No caminho da madrugada, por
volta das 4horas, praticamente nenhum transeunte nas ruas, a não ser os
barulhos dos carros, táxis, caminhões. Apesar do horário, um carro atrevido
passou com um som muito alto, quebrando a paz da madrugada.
Com pouco tempo de caminhada,
estávamos na Av. Norte, tristemente renomeada para Av. Miguel Arraes de
Alencar. A Avenida é um cenário de guerra. Calçadas irregulares, um ou outro
bar aberto, com os remanescentes das noitadas, em suas tristezas de fim de
festa, casas desordenadas, uma feiura só.
Mais à frente um aceno de
flanelinha a vigiar os carros que se dirigiam ao morro nos alertava que o
destino estava próximo. Mais bares, mais fins de noitadas, cervejas, som alto,
bregas, funk, tatuagens, gargalhadas. Chegamos ao pé do morro.
Pegamos um caminho à direita e
fomos serpenteando a ladeira um pouco íngrime. Uma infinidade de mendigos com expressões de
cansaço jazia nas calçadas, com algum aparato na mão estendida, a esperar
alguma generosidade dos passantes. Quase toda calçada da ladeira era palmilhada
por mendigos.
De repente, um pouco ao longe,
vindo do alto de um prédio de dois andares, chegava-nos um som que ia ficando
cada vez mais alto. A letra da música era indizível. Tivemos que parar a
recitação dos últimos mistérios do rosário, em respeito à Nossa Senhora, e
também porque o som abafava a nossa voz. Causa impressão a completa falta de
respeito dos que ali estavam gozando “mais
um feriado”. Pessoas desciam e subiam as escadas sem camisa, com copos de
cerveja, sons de péssimo gosto de canto a outro. Seria difícil acreditar que
mais acima houvesse uma Igreja, que se celebrava a Imaculada Conceição da mãe
de Deus.
Chegamos ao topo. Um grupo dava
urras porque a polícia, fortemente presente, levava rendida duas mulheres que
brigavam, foi o que deu para escutar. Pouco mais à frente convivia a missa campal,
apinhada de gente, bares cheios, músicas, cachaça, fedor horrível de excrementos
vindo dos banheiros químicos.
Andamos e seguimos para rezar os
últimos mistérios aos pés da Virgem Santa, conforme a foto aqui tirada. Muita
gente aos pés da imagem. Apesar de toda a balbúrdia por que passamos, havia paz aos pés de Nossa Senhora. Rezamos, cantamos o último canto do roteiro,
fizemos nossas orações particulares.
Apesar de tudo o que vimos, valeu
muito à pena. É sempre reconfortante rezar aos pés da Imaculada Conceição.
Comove, nesse mundo tão afeito ao prazer material, ver peregrinos pagando suas
promessas, rezando e louvando a santa mãe de Deus. Esperamos em Deus que cesse
a dessacralização da festa e que ao menos se volte, ainda que lentamente, a uma
maior seriedade e conscientização de que ali viceja sobretudo um evento
religioso. Os padres teriam muito a contribuir nisso.
Recife, 8 de dezembro de 2017.
Antônio Manuel