I – POR QUEM OS SINOS DOBRAM
A igreja em saída se fechou.
As portas foram cerradas. Os sinos, até os sinos silenciaram. Falo também o que
testemunho. Não sei se todos os sinos, em todas as paróquias, emudeceram, mas o
da igreja das Graças, no bairro das Graças, no Recife, onde moro, não repica
mais. Esse fato foi um dos que mais me chamou a atenção, tendo em vista o poder
espiritual do sino, que hoje é negado pelo sacerdote daquela paróquia. Segue um
trecho da bênção do sino:
Derramai, Senhor, sobre esta água a bênção
celeste e fazei descer sobre ela a virtude do Espírito Santo, para que, tendo
sido rociado com ela este vaso, destinado a convocar os filhos da Santa Igreja,
dos lugares onde ressoar este sino, se afaste para longe a virtude das ciladas
dos inimigos, a sombra dos fantasmas, a violência dos turbilhões, os golpes dos
raios, os estragos das trovoadas, os desastres das tempestades e todos os
espíritos das procelas
Os sinos já não dobram mais,
os filhos da Santa Igreja não são mais convocados, estão confinados; nada mais
se espera dos céus, a não ser um novo decreto da autoridade pública, a dizer o
que se deve ou não fazer, com o total beneplácito dos bispos. Detalhe, essa
autoridade pública só não pode ser o atual presidente em exercício no país, que
em um ato de insanidade completa declarou a religião como serviço essencial.
Ah, mas eu lembrava uma tal
entrevista imaginária de Nelson Rodrigues com D. Hélder, aquele mesmo arcebispo
vermelho que tem agora o seu processo de beatificação acelerado em Roma. Talvez vocês entendam a
posição da CNBB ao ler aquela entrevista. Eles aprenderam tudo
nessas teologias liberais e libertárias.
Nelson Rodrigues era
assertivo: D. Hélder só olha para o céu para saber se leva ou não guarda-chuva.
Hoje os padres só abrem as igrejas se não tiver coronavírus. E, pasmem, é um
ato de caridade não ter missas. Se essa frase fosse dita em janeiro de 2020
seria uma insanidade; mas na data que ora escrevo é capaz de até
tradicionalistas se emocionarem com esse mais novo truísmo.