Desde que enganado
pelo demônio, o homem julga-se senhor do
mundo, capaz de estabelecer o que é bom ou mau segundo o próprio arbítrio,
dispensado o Criador (Gênesis, 3, 1 a 5).
A contestar o domínio
do homem sobre o mundo, vez ou outra surgem pragas da natureza, a causar grande
morticínio.
No Antigo Testamento,
encontra-se a passagem das pragas rogadas sobre o antigo Egito (Êxodo, 7 a 11).
Na Idade Média, a
Peste Negra ou Bubônica, causada por uma bactéria proveniente da pulga do rato
negro, foi uma epidemia que resultou na
morte estimada de milhões de pessoas, da Ásia à Europa.
Na Idade Contemporânea,
a Gripe Espanhola foi uma pandemia causada pelo vírus influenza, ao final da
Primeira Guerra Mundial, que também
terminou em um morticínio estimado em cinquenta milhões de pessoas.
Passando à ficção, na
Guerra dos Mundos, romance de H. G. Wells, marcianos que haviam invadido a
Terra, para exterminar a humanidade, são destruídos por micro-organismos,
contra os quais não tinham defesas naturais. Desta vez, os micróbios
estariam a voltar-se contra o homem?
Na atualidade, espalha-se
pelo mundo, com incrível rapidez, a pandemia causada pelo coronavírus, a impor,
como medida paliativa, um isolamento social sem precedentes, com graves
repercussões econômicas.
Até que se consiga
obter um remédio ou uma vacina eficientes, o vírus parece querer devastar a
humanidade. No momento, só nos resta ficar em casa, como o homem pri-mitivo se
escondia das feras nas cavernas.
A lição que se pode
tirar dessa tragédia é que as vitórias humanas são sempre efêmeras, podendo ser
superadas pelos flagelos que, de tempos em tempos, devastam a espécie humana.
No dizer de Albert
Camus, a peste não desaparece nunca, ficando adormecida entre um ciclo e outro,
até que dela nos tenhamos esquecido.
Para refletir: quando o
homem se afasta da luz divina, quer dizer da lei natural revelada pela graça ou
pela razão, cai nas trevas da peste. Para relembrar Gustavo Corção, não seria a
peste causada pelo desconcerto do mundo?
Que Deus guarde a nós e
a nossas famílias!
Paulo Eduardo Razuk, desembargador aposentado do TJSP.