NOTA DO TRADUTOR: Segue abaixo texto interessante escrito pelo professor Roberto de Mattei. Ressalvamos, por outro lado, que o articulista deve ser observado com cautela, uma vez que é filiado à corrente de pensamento esposada por Plínio Correia de Oliveira, que já foi fartamente denunciada pelo professor Orlando Fedeli, principalmente no seu livro: A gnose burlesca dos Arautos do Evangelho. O texto abaixo, no entanto, faz uma singular interpretação dos fatos correntes provocado pelo "misterioso vírus".
Link do livro do prof. Orlando: http://www.montfort.org.br:84/bra/veritas/religiao/contra-pco/
Link do livro do prof. Orlando: http://www.montfort.org.br:84/bra/veritas/religiao/contra-pco/
O cisne negro (Cygnus atratus)
é um pássaro raro, originário da Austrália, que tem esse nome devido à
coloração de sua plumagem. Nassim Nicholas Taleb, um analista financeiro, ex-trader
de Wall Street, no seu livro O cisne negro (The Black Swan: The
Impact f the Highly Improbable, Random House, New York 2007), utilizou esta
metáfora para explicar a existência de eventos inesperados e catastróficos que
poderiam mudar a vida de todo mundo.
O coronavírus tem sido o cisne
negro de 2020, escreve Marta Dassú, do Instituto Aspen, explicando que a
epidemia está colocando em crise a atividade econômica das nações ocidentais e
“demonstra a fragilidade das cadeias produtivas globais; quando um choque
atinge um dos anéis, o impacto se torna sistêmico” (Aspenia, 88 (2020), p.9).
“A segunda epidemia está a caminho – escreve Frederico Rampini no La Repubblica
de 22 de março – e todos precisam enfrentar e curá-la. Ela se chama Grande
Depressão e terá um balanço de vítimas paralelo ao do vírus. Na América ninguém
mais usa o termo recessão porque é muito brando.
A economia interconectada do
mundo se revela como um sistema precário, mas o impacto do coronavírus não diz
respeito apenas a um aspecto econômica e sanitário, mas também religioso e
ideológico. A utopia da globalização, que até setembro de 2019 parecia
triunfar, sofre agora uma débacle irremediável. Em 12 de setembro de 2019 o Papa Francisco
tinha convidado os líderes das principais religiões, além dos expoentes
internacionais do universo econômico, político e cultural, para participarem de
um evento solene que seria no Vaticano no dia 14 de maio de 2020: O Global
Compact on Education, o pacto educativo global. Nesta mesma época a
“profetiza” da ecologia profunda, Greta Thunberg, chegava em Nova York para o Climate
Change Summit 2019 organizado pela ONU e aos participantes do evento, Papa
Francisco, na vigília do Sínodo da Amazônia, enviava um vídeo-mensagem para
manifestar sua total consonância com os objetivos globalistas.
No dia 21 de janeiro de 2020 o
Papa Francisco endereçou uma mensagem a Klaus Schwab, presidente executivo do World
Economic Forum (WEF), de Davos, sublinhando a importância de uma “ecologia
integral”, que levasse em conta “a complexidade e a interconexão da nossa
casa comum”. Mas um misterioso vírus já começava a infligir um tiro mortal
na “aldeia global”.
Poucos meses depois, nos
encontraríamos diante de uma situação absolutamente inédita. Greta é esquecida,
o Sínodo da Amazônia falhou, os líderes políticos do mundo revelaram a
incapacidade em afrontar a emergência, o Global Compact é esquecido, a praça
São Pedro, centro espiritual do mundo, está vazia. As autoridades eclesiásticas
se conformam (às vezes se antecipando) aos decretos restritivos das autoridades
civis que vetavam as missas e as cerimônias religiosas de todos os tipos. O
evento mais simbólico e paradoxal seja talvez o fechamento do Santuário de
Lourdes, o lugar por excelência para as curas espirituais e físicas, que fechou
as portas, movido pelo temor de que alguma pessoa possa adoecer ao pedir a Deus
por sua saúde. Isso tudo é uma manobra? Nos encontramos diante de um poder
totalitário que restringe a liberdade dos cidadãos e persegue os cristãos?
É estranho haver uma perseguição
onde parece ausente toda forma heroica
de resistência, até o martírio da parte dos perseguidos, muito diferente de
todas as grandes perseguições da história. Na realidade, não se deverá falar de
perseguição anticristã, mas “autoperseguição” por parte dos homens da Igreja,
que fechando as igrejas e suspendendo as missas, parecem portar o último ponto
coerente de um processo de autodemolição iniciado nos anos sessenta do século
passado com o Concílio Vaticano II. E infelizmente, tirante algumas raras
exceções, até mesmo o clero tradicionalista, que ficou fechado em suas casas,
parece vítima dessa autoperseguição.
Foi comovente a generosidade de
8000 médicos italianos ao responderem ao apelo do governo que convocava 300
voluntários nos hospitais da Lombardia. Como teria sido edificante um apelo aos
sacerdotes pelo presidente da Conferência episcopal para evitar faltar aos
fiéis os sacramentos nas igrejas, nas casas, nos hospitais! Ainda vale lembrar a mensagem de
Fátima, que no ano de 2017 se comemorou o centésimo ano da aparição. No dia 25
de março, o cardeal António Augusto dos Santos Marto, bispo de Leiria-Fátima,
renovou a cerimônia de consagração ao Imaculado Coração de Maria para toda
península Ibérica. Foi um ato meritório, mas Nossa Senhora pediu uma coisa a
mais: a consagração específica da Rússia, feita pelo Papa, em união com todos
os bispos do mundo. É este o ato - até agora nunca realizado - que todo mundo
espera, antes que seja tarde demais.
Nossa Senhora de Fátima anunciou
que se o mundo não se converter diversas nações serão aniquiladas. Quais serão
essas nações? E quais os modos de aniquilamento? O que é certo é que o
principal castigo não é a destruição dos corpos, mas a destruição das almas. Nas
Sagradas Escrituras se lê que “cada qual será punido por meio das coisas com as
quais peca” (Sabedoria 11,16). O mesmo pensamento pagão, pela boca de Sêneca,
que recorda que “o castigo do delito está no delito mesmo”. (Da fortuna, parte
II, cap. 3).
A punição começa quando se perde
o conceito de um Deus justo e remunerador, e por afiliar-se a uma falsa imagem
de um Deus que, como dito pelo Papa Francisco, “não permite tragédias para
punir os pecados” (Angelus, 28 de fevereiro 2020). “Como frequentemente
pensamos que Deus é bom se nós agimos bem e que nos castiga, se nós agimos mal.
Não é assim,” reiterou Francisco na missa de Natal no último 25 de dezembro.
Por outo lado, até mesmo o “Papa bom”, João XXIII, recordava que “o homem, que
dissemina o pecado, colhe o castigo. O castigo de Deus é a resposta devido os pecados
dos homens”; portanto “Ele (Jesus) nos chama para fugir do pecado, causa
principal dos grandes castigos” (Rádio mensagem de 28 de dezembro de 1958).
Remover a ideia do castigo não
significa evitá-lo. O castigo é a consequência do pecado e somente a contrição
e a penitência dos próprios pecados podem evitar a pena que estes pecados inevitavelmente
trazem, por ter violado a ordem do universo. Quando os pecados são coletivos,
os castigos são coletivos. Como admirar-se pelo morticínio que acomete uma nação,
quando os governos são culpados de leis homicidas como o aborto, e mesmo durante
a epidemia o massacre dos inocentes continua, como na Grã Bretanha, onde o
governo autorizou o aborto em casa para não ter que interromper a carnificina
durante o coronavírus. E quando, no lugar dos corpos, as almas são afetadas,
como se admirar que a perda da fé seja a punição para os responsáveis? Não
enxergar a mão de Deus por trás desta grande catástrofe da história é um
sintoma de falta de fé.
O castigo coletivo chegou de
repente, como um “cisne negro” que apareceu rapidamente sobra as águas. Esta
visão nos confunde e não sabemos explicar de onde vem e que coisa anuncia. O
homem é incapaz de prever os “cisnes negros” que de um dia para o outro põe sua
vida de avesso. Mas estes acontecimentos não são frutos do acaso, como sustenta
o senhor Taleb e todos os que analisam os eventos em uma perspectiva humana e secularista,
esquecendo que o acaso não existe e que as maquinações dos homens estão sempre
sujeitas à vontade de Deus. Tudo depende de Deus e Deus guia todas as coisas
para uma finalidade quando inicia seu trabalho: “Pois Ele é único: quem poderá
repeli-lo? O que for do Seu desejo, Ele fará”. (Jó, 23,13).
Roberto de Mattei
Corrispondenza Romana, 25 de março de 2020.
Fonte: https://www.corrispondenzaromana.it/il-cigno-nero-del-2020/