A crise causada pelo vírus chinês é anticivilizacional,
fortaleceu a Nomenklatura
burocrática
e fragmentou a sociedade. Impôs a
dualidade indivíduo e Estado e enfraqueceu os
corpos intermediários. Conceitualmente,
tem alma revolucionária, aliando-se a tudo o que de pior “as Revoluções”
geraram no mundo ao longo dos séculos.
Uma
prova do ataque aos corpos intermediários
é que a crise do coronavirus gerou não acontecimentos à
mesa de bares e de restaurantes. Na ambiência destes estabelecimentos vê-se
a confraternização
entre amigos, entre colegas
de trabalho, entre família,
etc., inexistindo a figura do Estado e do homem
médio isolado. O bar é o
oposto da crise do vírus
chinês.
Por outro lado, a pandemia é compatível com o
“delivery” e com o abominável “drive thru” de “fast food” e fez o apogeu deste
último que é a vitória inconteste da má alimentação. Aliás, o vírus começou
como fruto da má alimentação.
Esteticamente, a pandemia é
“pós moderna”, similar aos filmes de ficção
científica dos anos 1960, 1970 e 1980, da linha apocalíptica, nos quais eram
mostrados parques, praias, ruas vazios (o dito romântico de Castro Alves aqui é
violado: “a praça é do povo, assim como o céu é do condor”). E o uso atual das
máscaras também se harmoniza com a visão higienista destes mesmos filmes.
Curioso que a palavra hipocrisia tem sua origem etimológica no vocábulo que
designava os atores que usavam máscara no antigo teatro grego.
A crise também tem acepção arquitetônica e
urbanística, de alma anti-barroca, e devastou a alegria da Plaza
Mayor espanhola e das ruas brasileiras. É dito pelo Estado que “só se
pode sair de casa em caso de necessidade”, similar ao conceito da
arquitetura funcionalista
de Bauhaus, por exemplo, já que ambos se referem ao “utilitarismo”.
A pandemia mutilou o dia. A
reforma de Lutero está para a religião,
assim como a pandemia está para o
cotidiano.
Na economia, a pandemia favorecerá as grandes
corporações em detrimento dos pequenos estabelecimentos comerciais,
fortalecendo o comando e controle financeiro do mundo e, é claro, haverá
“rearranjo de poder”, como sempre acontece nas crises.
No Direito, houve o “não direito” imposto à população.
O trabalho foi limitado ou até mesmo proibido, em alguns casos, o que é
gravíssimo. O triunfo de Hegel e do fascismo se apresentou: “Tudo no
Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado”.
quarentena em São Paulo, 2020. |
A pandemia vitaminou a televisão, que estava em
decadência. Assim, a televisão retomou o protagonismo para a o emburrecimento
da população.
A crise atiçou as pessoas para o “fake news”, para o
achismo, para o mundo falso da “pós-verdade”, para os “memes” e para a busca
impulsiva de informações, fortalecendo o império do efêmero, desviando as
pessoas dos valores irreformáveis e perenes da civilização. E, ainda, levou o homem a abusar mais da
intermediação eletrônica,
por meio de celulares, computadores etc. que
pela sua natureza é personalíssima,
ajudando a atomização do ser humano e a coisificação das relações. O mote de
repente “O planeta movido a internet é escravo da tecnologia” nunca foi tão
verdadeiro.
O pior foi o ataque à religião com o infeliz (e
esperado) servilismo dos bispos, causando o fechamento das igrejas e a consequente
intermediação eletrônica do serviço religioso, via televisão ou computadores,
em mais uma tentativa de protestantizar a religião católica.
A pandemia foi uma demonstração de força de quem manda
no mundo. A ação coordenada imposta às nações mostra moção competente das lojas
secretas e discretas.
A crise fez uma fusão de elementos comunistas,
protestantes, liberais e fascistas (que no fundo são todos aparentados) e
pressageia manobras futuras sempre com o intuito de ferir o que sobrou da
civilização católica.
Marcelo Andrade, abril de 2020.