Poucos templos atingem a
perfeição da Catedral de Paris, devido ao equilíbrio de suas proporções e à
harmonia de suas fachadas, onde se combinam suas formas horizontais e verticais.
É o ponto culminante do estilo gótico, o mais belo edifício religioso da
Capital da França (Guia Michelin de Paris, 2ª edição, 1993, p.113).
O
templo atual foi precedido de outro gálico-romano, de basílica cristã e de
igreja românica. Foi fundado pelo bispo Maurício de Sully, havendo a construção
se iniciado em 1163, com a conclusão dos trabalhos por volta de 1300.
São
Luís, Rei de França, ali depositou a coroa de espinhos em 1239, antes que
ficasse pronta a Capela Santa do Palácio Real. Em 1302, Filipe o Belo lá abriu
solenemente os primeiros estados gerais do Reino.
Portanto,
Notre-Dame é o símbolo maior da monarquia capetiana, da aliança entre o altar e
o trono, que representam o poder espiritual e o temporal.
Suas
arcadas, suas ogivas e seus vitrais denotam o ápice do estilo gótico, a mais
elevada manifestação arquitetônica de adoração a Deus.
Em
face de tal significado, contra ela se voltou a Revolução, durante a qual foi profanada
e vandalizada, em demonstração de ódio a Deus, à Igreja , ao Rei e à nobreza ,
enfim contra tudo que fosse superior.
Daí
em diante, foi o templo dedicado ao culto pagão da deusa da Razão. As imagens
foram destruídas e os sinos, salvo o maior, derretidos para a fabricação de
canhões. Em suas arcadas foram amontoados víveres para o povo e forração para
os animais.
Ao
longo do tempo, o edifício entrou em decadência, tendo sido iniciada a
restauração após o lançamento da obra “O Corcunda de Notre-Dame” de Vítor Hugo,
inserido no movimento literário romântico.
A
Revolução aboliu a religião cristã, declarando os templos católicos propriedade
do Estado e promovendo perseguição contra o clero.
Atualmente, destacava-se como
ponto de atração turística, mediante a cobrança de ingresso dos visitantes em
grande número, liderados por guias com
flâmulas de identificação dos grupos, que forneciam explicações em uma babel
linguística, o que limitava por demais os serviços religiosos.
Mas voltara a entrar em decadência física nos últimos tempos, o que culminou com o grande incêndio que a consumiu em 15 de abril de 2019, como consequência do abandono a que estava relegada.
A obra da Revolução foi completada pelo Estado laico, agnóstico e
liberal, com a destruição do templo, cuja reconstrução, cara e difícil, não se
sabe se e quando poderá ser concluída.
Que a tragédia sirva para despertar o renascimento da fé na nação que fora a filha dileta do cristianismo, com a
restauração do culto católico no templo dedicado a Nossa Senhora, não como atração
turística do parque temático de Paris!
São Paulo, 11 de maio de 2020
Paulo Eduardo Razuk
Desembargador Aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo