Na Quinta da Boa Vista, situava-se o
casarão erguido sobre uma elevação, que se estendia das margens do Rio Maracanã
à Praia do Caju. Pertencia a Elias Antonio Lopes, nome aportuguesado do
comerciante libanês Elie Antoun Lubbus,
que chegara ao Brasil em 1790, vindo do Porto.
Enriquecera no tráfico de escravos, sendo chamado pelo povo de Elias
o Turco, por fazer o Líbano então parte do Império Otomano. Em 1808, com a
chegada da família real ao Brasil, cedeu o casarão ao Príncipe Regente, antes
que fosse confiscado. Reformado, passou a ser conhecido como o Paço de São
Cristóvão, a principal residência da família real, depois imperial, até que
fosse exilada pela República.
Em 1890, o
governo provisório tomou a decisão arbitrária de promover
a venda forçada dos bens da família imperial, em um leilão marcado pela
desordem, em que todo o acervo histórico do palácio foi dissipado, com prejuízo
para a memória nacional. O fato insere-se no esforço republicano para apagar os
vestígios da monarquia brasileira. Na Rússia, nem os bolcheviques chegaram a
tanto: embora houvessem assassinado o Czar e a sua família, pouparam os
palácios e as suas alfaias, abertos à visitação. Aqui, tudo se perdeu com o
malsinado leilão.
Em 1891, no Paço de São
Cristovão, reuniu-se a Assembléia Constituinte que deu ao Brasil a primeira
Constituição da República, a inaugurar uma série que parece infindável ...
Em 1892, o
prédio foi destinado ao Museu Nacional, dedicado à história natural. Em estado
de péssima conservação, foi consumido pelo incêndio referido. A obra maléfica
da República foi completada pelo fogo do
descaso.
Por último,
não se deve confundir o Museu Nacional com o Museu Histórico Nacional ou com o
Museu Imperial de Petrópolis. O primeiro, dedicado à história do Brasil, foi
criado em 1922, ocupando o conjunto arquitetônico da Ponta do Calabouço, no Rio
de Janeiro. O segundo, inaugurado em 1943, é voltado ao período imperial da
nossa história.
Paulo Eduardo Razuk, desembargador aposentado do TJSP.
São Paulo, 19 de maio de 2020.
Fontes:
1.
Vivaldo Coaracy, Memórias da Cidade do Rio de
Janeiro, p. 260/263, Livraria José
Olímpio Editora, Rio de Janeiro, 1955.
2.
Brasil Gerson, História das Ruas do Rio, 5ª
edição, p. 157/158 e 190/191, Lacerda Editores, 2000.
3.
Guia de Visitação do Museu Nacional, o Palácio.
4.
Revista Época, depoimento de Laurentino Gomes a
Marcelo Coppola, em 8 de setembro de 2018.
5.
Site do
Museu da Casa da Moeda do Brasil.
6.
Wikipedia,
Incêndio no Museu Nacional do Rio de
Janeiro.
7.
Francisco Marques dos Santos, artigo publicado no Anuário do Museu
Imperial, v. 1, 1940