08 setembro, 2020

MÁSCARAS

 Por Paulo Eduardo Razuk

 

                                                                


Máscara é a peça com que se cobre parcial ou totalmente o rosto para ocultar a própria identidade. No teatro é a peça com que os atores cobrem o rosto para caracterizar o personagem que representam. Duas máscaras são os símbolos da tragédia e da comédia do antigo teatro grego. Na área médica, é a peça utilizada por profissionais, para cobrir a boca e o nariz em salas de cirurgia (1).

            
 Na antiguidade, o uso das máscaras se dava nas festas que celebravam Dionísio, deus do vinho. De artefato ritualístico, as máscaras passaram  a representar personagens de ambos os sexos no teatro grego, tanto na comédia quanto na tragédia. Como as mulheres não eram consideradas cidadãs, os personagens masculinos ou femininos eram sempre representados por homens (2).

No século XVIII, no carnaval de Veneza, festa profana, as máscaras e fantasias eram utilizadas pela nobreza como disfarce para misturar-se ao povo, de modo anônimo (3).

No cinema, máscaras eram usadas por malfeitores, para encobrir as suas identidades, em diversos gêneros, como western ou policial.  Atualmente, na vida real, os bandidos comuns assaltam as suas vítimas de cara limpa,  já não se preocupando em ocultar as suas identidades.

Nas manifestações de rua, entre os participantes, têm se infiltrado os black blocks, mascarados vestidos de preto, para promover depredações do patrimônio público ou privado, em ações de caráter anarquista, escondendo as suas identidades.

No entanto, a pior máscara é a invisível, que mostra um semblante que não corresponde ao verdadeiro caráter da pessoa. É a utilizada pelos fariseus, para afetar  uma virtude que não possuem. É a impostura, o fingimento e a falsa devoção. Exemplo perfeito de fariseu moral é o Conselheiro Acácio, personagem de O Primo Basílio de Eça de Queiroz. O mais horrível é aquele que traz no coração o ideal de Sodoma e presta devoção à Madona (4).

                                                          

Yukio Mishima, pseudônimo de Kimitake Hiraoka, escreveu um livro, considerado obra-prima pela crítica, de caráter autobiográfico, chamado Confissôes de uma Máscara, narrado em primeira pessoa, para admitir a sua homossexualidade, não obstante a sua postura máscula. Cometeu suicídio, dentro do ritual do seppuku, para afirmar a tradição milenar japonesa, em repúdio aos novos valores ocidentais (5).

 O psiquiatra austríaco Arthur Schnitzler escreveu um romance chamado Breve História de Um Sonho, em que narra que membros da alta sociedade vienense compareciam mascarados a festas orgiásticas, para envolver-se com sexo libertino, ocultando as suas identidades (6). O romance foi levado ao cinema por Stanley Kubrick, no filme De Olhos Bem Fechados.

Em razão da pandemia do corona vírus,  de início as máscaras não foram recomendadas, passando depois a sê-lo. Agora são obrigatórias,  sob pena de multa e autuação por desobediência, mesmo que a sua eficácia seja controversa. É a aliança entre a tirania e a “ciência”.

Antes, a máscara era usada para tornar a pessoa irreconhecível, liberando um comportamento antissocial. Agora, vem sendo imposta de maneira compulsória, com a finalidade política de impor um comportamento social, com base no medo.

A proporção é a redução da variedade à unidade. Na forma, algo é belo na medida em que é proporcional. Em matemática, o número de ouro da proporção é 1,618, que se encontra no corpo e no rosto humanos.  Quanto mais próximo do número de ouro, mais belo será o rosto (7).

Os católicos apostólicos romanos crêem que o homem foi criado à  imagem e semelhança de Deus. O ser humano é dotado de matéria e espírito, de maneira indissociável. Portanto, a cada ser humano corresponde uma alma imortal, inconfundível com outra. O semblante é a expressão da alma, sendo irrepetível.  A máscara serve a encobrir o rosto, tirando a individualidade de cada um, a tornar os seres humanos banais, tais como as formigas. Por conseguinte, o uso obediente da máscara nos torna indistinguíveis,  presas fáceis da manipulação.

A máscara completa o quadro da estandartização dos seres humanos. No vestir, casual clothes, a tornar todos idênticos, sem personalidade. No comer e no beber, fast food  e coca-cola, a estragar o paladar .  Na música, a atonal ou pop music, sem melodia nem harmonia entre as notas, com letras idiotas.  Na arte moderna, o culto do feio, do disforme, do monstruoso e do doentio, tanto na pintura quanto na escultura, a abolir o gosto pelo belo. Na literatura, o gênero de auto-ajuda, mera bobagem.  No lazer, o consumismo do shopping mall, a satisfação pela aquisição das trend marks.  

 É a imersão total na cultura de massa, em todos os aspectos da vida. Quid inde?

 

1.       Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, p. 1862, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2001.

2.       Laura Aidar, Teatro Grego –toda matéria.com.br

3.       Carnavaldeveneza, pt.wikipedia.org

4.       Fiodor M. Dostoievski, Os Irmãos Karamazovi,  Nova Cultural

5.       Yukio Mishima, Confissões de uma Máscara, Círculo do Livro