Paulo Eduardo Razuk
I
Filosofia significa amor à
sabedoria. Filósofo é aquele que se consagra a adquirir a inteligibilidade do
real. É consenso que a filosofia ocidental nasceu na antiga Grécia, com as
especulações dos pré-socráticos. Com efeito, a partir dos gregos data a crença
racional na ordem e na busca metódica da sabedoria e da verdade, onde reside a
essência da filosofia.
O filósofo (1660) Luca Giordano |
A filosofia abrange um grupo de disciplinas às
quais cabe a formulação sistemática do trabalho especulativo. Tais disciplinas
são: a) a gnoseologia, que trata do problema do conhecimento da verdade; b) a
lógica, que investiga as estruturas formais dos sistemas de pensamento; c) a
epistemologia, que perquire a estrutura, o fundamento e os métodos dos sistemas
científicos; d) a semiótica, que estuda a linguagem, isto é, o significado da
comunicação.
A história da filosofia ocidental fornece uma
visão retrospectiva da evolução intelectual, desde o século VI a.C. até o presente.
Portanto, o saber filosófico
demanda estudo dedicado e demorado, não
podendo ser adquirido de maneira rápida e superficial.
II
Na antiga Grécia, surgiram os sofistas,
que tomaram o homem considerado centro do mundo e não mais parte de um todo
natural que o supera e domina.
Os sofistas eram mestres
populares de filosofia, ávidos de riqueza e glória, que exploravam em benefício
da própria vaidade e cupidez o estado de espírito criado pelas
especulações filosóficas e condições
sociais do tempo. Mais retóricos que
filósofos, argutos, artificiosos e eruditos, ensinavam à juventude ateniense,
atraída pelos encantos da eloquência, com a arte de defender o pró e o contra
de todas as questões, o segredo de tirar partido de qualquer situação,
galgando as mais elevadas posições em
uma democracia volúvel e irriquieta. Serviam-se das armas da razão para
destruir a própria razão, sobre as ruínas da verdade erigindo o interesse em
norma suprema de ação.
Deles disse Xenofonte serem os que vendem
sabedoria por dinheiro. Para Platão, sofista é o que constrange o seu
interlocutor a dizer coisas contraditórias, com o prestígio das palavras que
enredam os seus ouvintes. Aristóteles definiu como sofista o que aufere lucros
de uma sabedoria que parece e não é. Sócrates combateu toda a vida esses pseudo-filósofo
A principal figura desse
movimento foi Protágoras, cujo mote espiritual foi assim formulado: “O homem é
a medida de todas as coisas, das que são enquanto são e das que não são
enquanto não são”. A proposição é ambígua, visto que pode levar a duas
conclusões diametralmente opostas: a primeira é que, ao reduzir-se o ser ao aparecer, nada é
verdade; a segunda é que como as únicas proposições possíveis são as formuladas
do ponto de vista do homem, tudo é possível. Ou seja, de cada homem considerado
individualmente dependem as coisas, não em sua realidade física, mas na sua
forma conhecida.
Outra figura, Górgias, concluiu
pela absoluta impossibilidade do saber: nada existe; se alguma coisa existisse,
não a poderíamos conhecer; se a conhecêssemos, não a poderíamos manifestar aos
outros.
Subjetivismo, relativismo e
sensualismo são as notas características do seu sistema de ceticismo parcial.
III
No que concerne à civilização e à
sorte do homem, a técnica é neutra,
podendo contribuir para a felicidade ou para a desgraça dos povos. Em si mesma,
é neutra, só recebendo o sinal positivo ou negativo quando a vontade humana
determina o seu uso. A técnica só é uma autêntica glória do homem, enquanto
permanecer na glória de Deus.
Assim sendo, o grande desenvolvimento da
tecnologia, com o rádio, a televisão e a internet, ampliou a comunicação entre
os seres humanos, dos grandes centros aos mais remotos rincões. Tais meios, em
si mesmos, são neutros, podendo servir ao bem ou ao mal, a depender da vontade
do homem.
Na antiga Grécia, os sofistas atuavam em praça
pública ou em ambientes reservados, de modo a atingir somente os circunstantes.
Na atualidade, surgiram novos sofistas, que se servem da técnica, para chegar a
um número inestimável de destinatários do que pregam.
Para S. Tomás de Aquino, a
verdade manifesta-se de dois modos: diretamente pela revelação e indiretamente
pela razão. A primeira é objeto da teologia; a segunda da filosofia.
Distingue-se a lei eterna, ordenação da sabedoria divina que rege o universo, da
lei natural, participação da lei eterna na criatura racional, e da lei positiva
ou humana, que pode ser eclesiástica ou civil.
No Paraíso, Deus proibira ao
homem comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, sob pena de morte.
Todavia, o homem deixou-se enganar pela serpente, que lhe prometeu ser como um
deus, versado no bem e no mal, isto é, por si mesmo estabelecer o que é bom ou
mau, sem o limite da lei natural.
Ora, os modernos sofistas declaram ser ateus
ou agnósticos, o que vale dizer que não
reconhecem limite superior à vontade humana. Cultos, inteligentes e vaidosos,
fizeram do antropoteísmo a sua religião.
Atraem pela eloquência e impressionam pela erudição. Cultivam o “politicamente correto”, seduzindo os
ouvintes com a promessa de que tudo que agrade ou apeteça é válido, a
justificar qualquer comportamento, sem encontrar outro limite que a lei
positiva. Reduzem o direito ao arbítrio da força social preponderante.
Através dos meios tecnológicos de comunicação,
propagam as suas idéias, a desviar o homem da sua vocação a Deus.
Vale relembrar o Eclesiastes:
“O que foi será
O que se fez, se tornará a fazer
Nada há de novo debaixo do sol “.
Fontes:
Leonel Franca S.J., Noções de
História da Filosofia, 19ª edição, Agir, Rio, 1967
Luís Washington Vita, Pequena
História da Filosofia, Saraiva, S.
Paulo, 1968
Gustavo Corção, As Fronteiras da Técnica, 5ª edição, Agir,
Rio, 1963
José Pedro Galvão de Sousa,
Direito Natural, Direito Positivo e Estado de Direito, Revista dos Tribunais,
S. Paulo, 1967
A Bíblia de Jerusalém, 5ª impressão ,
Paulinas, S. Paulo, 1991