É tolice pensar que a ideologia
gay, que quer normatizar e delegar direitos civis em virtude dessa conduta
pessoal, tem bases assentadas em um respeito às minorias, à atenção dos afetos,
a alguma questão humanitária. Essa é a casca, o invólucro para justificar algum
discurso formal e tornar palatável a defesa desses pretensos direitos.
O que na verdade está em jogo é algo muito mais profundo e naturalmente não falado, não dito e nem mesmo pronunciado. A razão última da ideologia de gênero é a perversão do real, é dizer que a realidade imposta por leis naturais e apreensíveis pela razão não tem importância alguma, mas o que vigora é na verdade uma certa iluminação interior que o indivíduo acessa e declara de maneira irreprochável: sou gay, bi, trans, cis, neutro et caterva. Ou seja, estou pouco me lixando para a razão, o que deve triunfar é minha vontade, ideia tão cara à ideologia nazista que inclusive tem um documentário da época intitulado “Triumph des Willens”.
A ascensão do nazismo se deu na
senda do irracionalismo filosófico do fim do século XIX, tomando o caminho do
romantismo gnóstico, na busca pelas origens do novo homem moderno, uma espécie
de novo SER, diferente do antigo homem, construído nas bases de uma Europa cristã.
Hitler perseguiu esse novo homem perfeito e inaugurou a política racialista, a
política do sangue, das origens do nascimento e dos fundamentos externos como
cor da pele, o cabelo... Aquela loucura levou a uma revolução mundial traduzida
na segunda grande guerra, trazendo trágicos efeitos e fazendo surgir o século
das dores, o triste século XX.
Esse triunfo da vontade perpassou
o campo da direita e da esquerda e hoje reside em políticas semelhantes ao nazismo,
sob um plágio macaqueado de humanismo, como a promoção LGBT. Se antes aquele humanismo
alemão, na visão dos nazistas, queria a libertação da humanidade na religião dos
deuses alemães, hoje há a religião do afeto, do sentimento, da sensibilidade, a
ponto de se cometer as maiores barbaridades sob alegações completamente
destituídas de bases na razão e na realidade, mas nesse triunfo soberano da
vontade individual. O mundo que construiu o nazismo, está sedimentando o xeol
dos dias que se avizinham.
Nessa nova base conceitual da
pavimentação do inferno a que estamos assistindo, sob a alegação de uma falsa
paz e convivência na diversidade, que na verdade é uma balela para incautos,
exsurge o judiciário como normatizador das condutas, e os novos sacerdotes que
irão apontar os pecados e as virtudes desse estranho mundo laico, cujo deus é culto
narcisístico do homem.
Sob a cortina da democracia, dos
princípios vagos, de maneira paulatina, a revolução vai palmilhando e se
estabelecendo. Como não há mais razão, o que sobra é a vontade dessa máquina aparentemente
impessoal que se chama Estado, que já é quase que completamente alheio aos valores
fundamentais do cristianismo. Quando se retira o céu do horizonte do homem,
advém a busca pela sacralização de tudo que é baixo, até se instituir um novo rito,
dessa vez com bases completamente naturais até a adoração mesma do diabo.
Essa reformulação profunda da
realidade e da razão reside na ascensão de figuras humanas elevadas a tradutores
incontestes desse novo estado de coisas: da tolerância e da fraternidade
universal. Tudo isso me faz lembrar o diálogo que Joseph K tem com o padre na
catedral. Eles falavam do guarda da lei, daquele que foi empregado para servir
à lei. O padre diz que duvidar de sua dignidade seria duvidar da própria lei. K
responde não partilhar da opinião do padre porque deveria então admitir que
tudo que o guarda diz é verdadeiro. O padre retruca dizendo que não é preciso
considerar tudo o que diz, mas que seria preciso considerar apenas o
necessário. K, por seu turno, diz que a opinião do padre era sombria e que se
fosse verdadeira, se faria participar a mentira na ordem do mundo.
Não existe mais a razão assentada
na guarda da lei, que em última instância reside no próprio Deus; o que vigora
é um guarda sombrio que o que diz é verdade, como uma imitação barata do
próprio Deus, daquele que dizia e as coisas eram feitas; esse falso deus moderno
tem a capacidade de refazer em torno dos escombros da razão e construir um
mundo falso, onde se nega o óbvio, a realidade, o bom senso, tudo no intuito de
construir uma comunhão universal que irá terminar semelhante ao nazismo, em uma
explosão de proporções inimagináveis.
Que Nossa Senhora nos preserve na
hora mais aguda da história.
Recife, 26 de abril de 2021, dia de
Nossa Senhora do Bom Conselho.
Antônio Manuel,