Iphigenia in Aulide é uma tragédia grega de Eurípedes (480/406 A.
C.). Foi escrita entre 408 e 406 A. C., ano da morte do autor, tendo ganho o
primeiro lugar na festa em honra de Dionísio, deus do vinho, em Atenas, Grécia,
naquele ano. Em 480 A. C. dera-se a Batalha de Salamina, em que a frota grega
venceu a medo-persa, assegurando a civilização ocidental, feito que seria
renovado na Batalha de Lepanto, em 1571, com a vitória da frota cristã sobre a
muçulmana.
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Igreja Colonial |
A peça é centrada na guerra de
Tróia. A frota grega estava parada em Aulide, pela falta de vento, causada pela
deusa Artemisa, que teria sido ofendida por Agamemnon, rei de Argos e líder da
coligação grega.
Para superar o obstáculo,
partindo a frota para Tróia, o rei teria de sacrificar a filha Ifigênia, de
modo a satisfazer a deusa. Com a oposição da mãe Clitemnestra e a admiração do
noivo Aquiles, ela acaba por entregar-se ao sacrifício, para morrer
heroicamente, como salvadora da Grécia.
A tragédia foi
reescrita em 1674 por Jean Racine (1639/1699), que viveu no reinado de Luís XIV
(1638/1715). Inspirou a ópera de igual
nome de Christoph Willibald Glueck, apresentada na Corte de Paris em 1774. Foi
também objeto de um filme grego em 1977, em que atuou como personagem principal
a grande atriz Irene Pappas (1926).
O tema da tragédia e das obras
nela inspiradas é a entrega ao sacrifício pessoal, por um ideal maior.
Na tradição cristã, existe o
culto de Santa Ifigênia, princesa da Etiópia, que teria sido convertida pelo
apóstolo S. Matheus, o qual partira para evangelizar aquele país.
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Igreja de Santa Ifigênia em São Paulo |
Os sacerdotes pagãos teriam convencido
o rei Eggipus, pai de Ifigênia, a oferecê-la em sacrifício na fogueira, para
aplacar a ira dos deuses. No entanto, a princesa teria sido salva das chamas
por um anjo enviado do Céu, o que acabou por acarretar a conversão do país à
religião cristã. O tema é o mesmo da tragédia, o sacrifício pessoal por um bem
maior.
A Igreja Católica presta culto a
Santa Ifigênia, objeto de devoção popular mundo afora. Ela é mostrada no hábito
das carmelitas, como símbolo de pobreza, espiritualidade e consagração a Deus.
O véu preto significa a dedicação da vida a Deus, na pobreza e na obediência. O
véu branco a virgindade, como sinal de amor a Deus e de serviço aos pobres. A
coroa lembra a origem nobre da Santa e a vitória sobre o pecado e a morte. O
livro nas mãos é o Evangelho recebido de S. Mateus. A espada a força da palavra
de Deus. A casa em chamas a vitória do bem sobre o mal, sendo conhecida como
protetora dos que necessitam de casa própria.
Em S. Paulo, existe a Paróquia de
Nossa Senhora da Conceição e Santa Ifigênia ou Basílica do Santíssimo
Sacramento. No lugar, havia uma Capela de Nossa Senhora da Conceição, erguida
por volta de 1720, reformada em 1794, tendo sido a paróquia criada em 1809. Em
1817, iniciou-se a construção de um templo maior, reformado em 1899. O templo
colonial foi demolido no início do século XX. A construção da igreja atual teve
início em 1904, tendo sido concluída em 1913.
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Igreja em Berlim |
O projeto é do arquiteto austríaco
Johann Lorenz Madein. Possui estilo neogótico românico, inspirado nas igrejas
medievais do norte europeu, dentro do movimento romântico alemão, que procurou
resgatar o passado
heróico medieval, na
arte, na arquitetura, na música e na literatura. Na fachada, apresenta duas
torres laterais pequenas e uma torre central octogonal alta e maciça. O acesso
principal dá-se por um portal de arco românico. No interior, as paredes são
decoradas com pinturas medievalistas. As rosáceas têm vitrais venezianos, com
pinturas abaixo representando a Sagrada Família e as Bodas de Caná. As abóbodas
têm nervuras góticas. Há dois púlpitos de madeira importados da França. O órgão
alemão foi inaugurado em 1924. O templo foi elevado a Basílica Menor em 1958
pelo Papa Pio XII.
O templo paulistano, jóia da
arquitetura religiosa, é muito semelhante á Igreja Kaiser Wilhelm de Berlim,
inaugurada em 1890 e destruída em um bombardeio insensato na segunda guerra
mundial. Foi mantida a sua ruína, como uma advertência sobre a loucura da
guerra.
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Ruínas da Igreja em Berlim |
A igreja paulistana encontra-se
na região central da cidade, muito degradada. Houve a aprovação de um projeto
de restauro, ainda não realizado. Espera-se que não seja reduzido à ruína, não
pela guerra, mas pelo esquecimento, pelo abandono e pelo descaso.
Paulo Eduardo Razuk,
São Paulo, 21 de dezembro de 2021.