Paulo Eduardo Razuk
Proclamada a República,
de extração maçônica, começou o movimento apelidado “Bota Abaixo”, com o fim de
eliminar a herança colonial, na busca de
tornar o Rio de Janeiro e S. Paulo assemelhadas a Paris, com seus grandes boulevards. Além da separação entre
Igreja e Estado, investiu-se contra os templos católicos.
No Rio, o clímax veio com o arrasamento do Morro do Castelo,
lugar de fundação da cidade. Vieram abaixo a Fortaleza de S. Sebastião - O
Castelo, a antiga Igreja da Sé e o
Colégio e Igreja dos Jesuítas, como se Paris houvesse por demolir o que
existisse na Île de la Cité. O entulho foi aproveitado no aterramento da Urca,
na Baía de Guanabara. Outros templos e conventos vieram a ser eliminados, no
afã de “progresso”.
S. Paulo não podia ficar atrás. O caráter anticlerical do
regime não pouparia diversos templos. A
Igreja dos Jesuítas, no Pátio do Colégio, lugar de fundação da cidade, veio a
ruir por abandono, sendo erguida em seu lugar, muito mais tarde, uma réplica.
O Palácio Episcopal, na Bela Vista, digna residência de um
cardeal, príncipe da Igreja, foi vendido pela Mitra, ao que se seguiu a
demolição, para dar lugar a um condomínio residencial.
Outros templos também não foram poupados. O Colégio e a
Igreja do Carmo foram demolidos e deram lugar ao prédio da Secretaria da
Fazenda. Ao lado, resiste solitária a Igreja da Ordem Terceira do Carmo.
O Convento de S. Francisco, onde se instalara a Faculdade de
Direito, foi demolido, em seu lugar tendo sido construído edifício de estilo
eclético. Ao lado, permanecem as Igrejas de S. Francisco e a da respectiva
Ordem Terceira.
Com o erguimento de nova catedral, em estilo neogótico, com
cúpula renascentista, veio a ser demolida a antiga Sé, que não ficava no mesmo
sítio, mas um pouco abaixo, vizinha da Igreja de S. Pedro, também demolida,
para dar lugar ao prédio da Caixa Econômica Federal.
Outros vieram abaixo: a Igreja dos Remédios para a expansão
da Praça João Mendes, a Igreja da Misericórdia, no largo do mesmo nome, e a
Igreja do Rosário, no largo rebatizado como Praça Álvares Penteado, tendo sido
outra erguida no Largo do Paissandu.
Marcante foi o caso do Colégio
Des Oiseaux, na Rua Caio Prado, das Cônegas de Santo Agostinho. Vendido à
iniciativa privada, foi demolido. Mas o adquirente teve má sorte, pois
empreendimento algum lá teve lugar, até que a municipalidade ali instalasse o
Parque Augusta, velha reclamação da coletividade.
Outro caso de má sorte foi o do Mosteiro de Santa Maria, das
monjas beneditinas, em estilo românico, na Bela Vista. Demolido, deu lugar ao
Hotel Maksoud Plaza, fechado há tempos.
Daquele tempo foi a destruição da Igreja de Santa Generosa,
em estilo neogótico, no Paraiso, para que ali se abrisse um imenso buraco, no
espigão da Av. Paulista, ligando os dois braços da Av. 23 de Maio. Desprezou-se
a alternativa de um túnel, como na Av. Nove de Julho, que preservasse o
patrimônio histórico e paisagem urbana. Não houve resistência da hierarquia
católica à demolição, tendo sido aproveitado, pelo antigo vigário, o salão
paroquial nas proximidades como o novo templo, inteiramente desfigurado.
Vem agora dois casos recentes, causados pela especulação
imobiliária, â qual a Igreja Católica em São Paulo parece ter ficado sensível.
O primeiro é o da Igreja de Dom Bosco, na Mooca, vendida
pelos Salesianos a uma empresa privada, com risco de demolição, ainda vedada em
caráter liminar.
O segundo é do Instituto Madre Vicunha, na Alameda Itu,
Jardim Paulista, que abrigava um casarão
quase centenário, cujo projeto era do Arquiteto Dacio Aguiar de Moraes, autor
de projetos marcantes na paisagem paulistana, como o do Hotel São Paulo e do
Edifício Saldanha Marinho. Não obstante, o tombamento foi negado pelo Conpresp,
tendo sido o edifício demolido. O lugar já abrigara agência de empregos
domésticos, pensionato para moças e cursos diversos, atividades que cessaram.
Havia missa diária, muito frequentada aos domingos, além de Festa Junina, da
qual participava a comunidade. As religiosas mudaram-se, tendo abandonado o
público ao qual davam assistência material e espiritual.
Variada a motivação, o “Bota Abaixo” continua atual.