08 julho, 2024

O “Bota Abaixo”

 


                                                                                               Paulo Eduardo Razuk

 

Proclamada a  República, de extração maçônica, começou o movimento apelidado “Bota Abaixo”, com o fim de eliminar  a herança colonial, na busca de tornar o Rio de Janeiro e S. Paulo assemelhadas a Paris, com seus grandes boulevards. Além da separação entre Igreja e Estado, investiu-se contra os templos católicos.

No Rio, o clímax veio com o arrasamento do Morro do Castelo, lugar de fundação da cidade. Vieram abaixo a Fortaleza de S. Sebastião - O Castelo, a antiga Igreja da Sé e  o Colégio e Igreja dos Jesuítas, como se Paris houvesse por demolir o que existisse na  Île de la Cité. O entulho foi aproveitado no aterramento da Urca, na Baía de Guanabara. Outros templos e conventos vieram a ser eliminados, no afã de “progresso”.


S. Paulo não podia ficar atrás. O caráter anticlerical do regime não  pouparia diversos templos. A Igreja dos Jesuítas, no Pátio do Colégio, lugar de fundação da cidade, veio a ruir por abandono, sendo erguida em seu lugar, muito mais tarde, uma réplica.

O Palácio Episcopal, na Bela Vista, digna residência de um cardeal, príncipe da Igreja, foi vendido pela Mitra, ao que se seguiu a demolição, para dar lugar a um condomínio residencial.

Outros templos também não foram poupados. O Colégio e a Igreja do Carmo foram demolidos e deram lugar ao prédio da Secretaria da Fazenda. Ao lado, resiste solitária a Igreja da Ordem Terceira do Carmo.

O Convento de S. Francisco, onde se instalara a Faculdade de Direito, foi demolido, em seu lugar tendo sido construído edifício de estilo eclético. Ao lado, permanecem as Igrejas de S. Francisco e a da respectiva Ordem Terceira.

Com o erguimento de nova catedral, em estilo neogótico, com cúpula renascentista, veio a ser demolida a antiga Sé, que não ficava no mesmo sítio, mas um pouco abaixo, vizinha da Igreja de S. Pedro, também demolida, para dar lugar ao prédio da Caixa Econômica Federal.

Outros vieram abaixo: a Igreja dos Remédios para a expansão da Praça João Mendes, a Igreja da Misericórdia, no largo do mesmo nome, e a Igreja do Rosário, no largo rebatizado como Praça Álvares Penteado, tendo sido outra erguida no Largo do Paissandu.

Marcante foi o caso do Colégio Des Oiseaux, na Rua Caio Prado, das Cônegas de Santo Agostinho. Vendido à iniciativa privada, foi demolido. Mas o adquirente teve má sorte, pois empreendimento algum lá teve lugar, até que a municipalidade ali instalasse o Parque Augusta, velha reclamação da coletividade.

Outro caso de má sorte foi o do Mosteiro de Santa Maria, das monjas beneditinas, em estilo românico, na Bela Vista. Demolido, deu lugar ao Hotel Maksoud Plaza, fechado há tempos.

Daquele tempo foi a destruição da Igreja de Santa Generosa, em estilo neogótico, no Paraiso, para que ali se abrisse um imenso buraco, no espigão da Av. Paulista, ligando os dois braços da Av. 23 de Maio. Desprezou-se a alternativa de um túnel, como na Av. Nove de Julho, que preservasse o patrimônio histórico e paisagem urbana. Não houve resistência da hierarquia católica à demolição, tendo sido aproveitado, pelo antigo vigário, o salão paroquial nas proximidades como o novo templo, inteiramente desfigurado.

Vem agora dois casos recentes, causados pela especulação imobiliária, â qual a Igreja Católica em São Paulo parece ter ficado sensível.

O primeiro é o da Igreja de Dom Bosco, na Mooca, vendida pelos Salesianos a uma empresa privada, com risco de demolição, ainda vedada em caráter liminar.

O segundo é do Instituto Madre Vicunha, na Alameda Itu, Jardim Paulista,  que abrigava um casarão quase centenário, cujo projeto era do Arquiteto Dacio Aguiar de Moraes, autor de projetos marcantes na paisagem paulistana, como o do Hotel São Paulo e do Edifício Saldanha Marinho. Não obstante, o tombamento foi negado pelo Conpresp, tendo sido o edifício demolido. O lugar já abrigara agência de empregos domésticos, pensionato para moças e cursos diversos, atividades que cessaram. Havia missa diária, muito frequentada aos domingos, além de Festa Junina, da qual participava a comunidade. As religiosas mudaram-se, tendo abandonado o público ao qual davam assistência material e espiritual.

 

 







 

Variada a motivação, o “Bota Abaixo” continua atual.