Desço à rua, é festa de Reis.
As pastoras carregam o traje azul e encarnado pelas velhas ruas do Recife. Mais
uma vez vou enfrentar Dantas Barreto, melhor dizendo, a avenida que se veste com
esse nome, a Presidente Vargas dos pobres, como dizia Hermilo Borba Filho. Era fim
do dia, o ocaso do comércio, e já havia a azáfama daqueles movimentos agoniados
de guardar os produtos e o peso do trabalho do dia, as pessoas tinham expressão
de pressa e cansaço. O lixo atapetava o chão. Ele era onipresente. Em todo canto
havia lixo: na avenida, na calçada, no poste, na rua, no meio fio, nos fios que
tanto poluem o Recife. Havia muito lixo na Dantas Barreto, mas as pastoras
passavam sorrindo e cantando, cantando e dançando.